Lideranças dos caminhoneiros criticaram duramente o anúncio feito pelo governo de Jair Bolsonaro de criação de um auxílio-diesel mensal de R$ 400 para ajudar nos gastos com o combustível, que já aumentou 68% este ano. Eles classificaram o auxílio como um “desabono”, um “desaforo”, uma “esmola”.
Com o último aumento para 14,1% nas refinarias, anunciado na sexta-feira (17), o litro do diesel já passa de R$ 7,00 em vários locais do país. A média de capacidade de um tanque de caminhão é de 400 litros. Com o vale do governo, os caminhoneiros pagariam cerca de 57 litros, o que, também em média, daria para rodar apenas 28 km.
“Se eu depender do governo, dá pra fazer entrega no meu bairro duas vezes durante dois dias”, diz Carlos Alberto Litti Dahmer, diretor da Confederação Nacional de Transportes e Logística da CUT (CNTTL), também caminhoneiro autônomo. “É um desabono. Não abona ninguém”, completa.
O dirigente afirma que paliativos dessa natureza não resolvem o problema enfrentado pelos caminhoneiros e pelo Brasil atualmente. A inflação é alavancada pelos preços dos combustíveis que impactam em todo o mercado já que 90% do que se consome no país é transportado por caminhões.
Do outro lado, os caminhoneiros, em especial os autônomos, estão vendo a cada dia mais as possibilidades de se manter na profissão de esgotarem. “Muitos não têm mais condição de fazer viagens porque não têm dinheiro para o combustível, para trocar pneu, o pedágio, manutenção, que ficou insuficiente e por isso, a carreta está parada, à venda”, diz Litti Dahmer, afirmando que vários já deixaram a profissão por falta de condições de se manter.
A única solução para salvar a categoria, diz Little Dahmer, é acabar com a política da Petrobras de Preço de Paridade de Importação (PPI), criada no governo do ilegítimo Michel Temer (MDB) e mantida por Bolsonaro. Pelo PPI os preços dos combustíveis no Brasil são reajustados de acordo com a variação do barril do petróleo no mercado mundial e da variação do câmbio (a cotação do dólar).
“O que tem que fazer - e se quer abonar realmente - é acabar com a PPI, esse malfadado instrumento de reajuste. Isso sim é estender a mão ao caminhoneiro, colocar algo de útil na vida diária do caminhoneiro”, afirma o dirigente.
Mobilização da categoria
Lideranças de caminhoneiros têm afirmado também que o auxílio é uma ‘esmola’ e uma ‘falta de respeito’. Na última sexta-feira, pelas redes sociais, Wallace Landim, que é presidente da Associação Nacional dos Veículos Automotores (Abrava) e que já apoiou Bolsonaro e diz ter se arrependido, chegou a dizer que “a greve é a mais provável reação” contra o PPI.
Litti Dahmer reforça que a mobilização na categoria tem sido feita para conscientizar de que é necessário, mais do que nunca, expressar o repúdio à política que vem sendo adotada e que penaliza os caminhoneiros e a sociedade.
“Estamos tentando dizer que não resolve estar parado em casa. É preciso fazer uma mobilização mostrando a dura realidade com o caminhão encostado na beira da rodovia, todos unidos mostrando que algo precisa ser feito para socorrer a classe”, pontua o dirigente.
A esmola de R$ 400
A ideia do governo de conceder o auxílio já vinha sendo discutida desde o mês de maio, para aliviar (na avaliação do governo) a pressão do aumento do diesel para os caminhoneiros. O temor de Bolsonaro era uma nova greve, aos moldes da greve que ocorreu em 2018, em nível nacional.
O Ministério da Economia estimou um gasto de cerca de R$ 1,5 bilhão para viabilizar esses repasses, valor inferior ao R$ 8,8 bilhões que o governo embolsou no dia 20 deste mês, referentes aos lucros da Petrobras. Ao todo São R$ 32 bilhões que serão pagos até julho.
Fonte: CUT, por Andre Accarini