Café Guaií e Quilombo: história, qualidade e justiça social



Café Guaií e Quilombo: história, qualidade e justiça social

Nas últimas semanas, acompanhamos consternados, embora envolvidos na luta, o despejo violento realizado no Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio (MG), a mando do governador Romeu Zema. Casas e plantações agroecológicas cultivadas há mais de 20 anos foram destruídas, e após 60h de resistência, a reintegração de posse de algumas áreas do acampamento foi concluída na última sexta-feira (14).  

A violência foi absurda: trabalhadores foram alvejados por bombas de gás lacrimogênio, policiais atearam fogo em pontos do acampamento, crianças e mulheres foram expostas aos ataques. Além das casas, a Escola Popular Eduardo Galeano, responsável pela alfabetização de crianças, jovens e adultos, foi desmantelada por um trator. Tudo isso aconteceu durante o auge da pandemia de coronavírus em Minas Gerais. 

O tamanho da área reintegrada corresponde a 52 hectares. O despejo desalojou oito famílias, incluindo 16 crianças. Considerando os agricultores que optaram por deixar suas casas antes da data do despejo, 14 famílias foram afetadas ao todo. “Fazer um despejo em meio a uma pandemia é criminoso, além de ilegal, por se tratar de um despejo fruto de processo judicial que contém uma série de vícios e interesses espúrios. A área que foi despejada definitivamente não pertence a quem a reivindica, enquanto esse mesmo tem dívidas milionárias com o Estado”, pontua Mahara Silva, gerente comercial da Cooperativa Camponesa, do MST do Sul de Minas. 

 

História de luta por igualdade e justiça 

450 famílias ocupam o local há 22 anos. A área é da usina falida Ariadnópolis, da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia), que encerrou as atividades em 1996. A empresa não pagou os devidos direitos aos trabalhadores – conforme a PGFN, são R$1,2 milhão em multas trabalhistas, e a dívida do FGTS ultrapassa R$1,5 milhão. Junto à União, são R$300 milhões. Para subsistirem, os trabalhadores que não receberam seus direitos permaneceram nas terras. 

“A concentração de terras no Brasil remonta a tempos coloniais. É necessário reparti-la com os trabalhadores e trabalhadoras que alimentam a nação, afinal, é a agricultura familiar quem alimenta as famílias, não o agronegócio. A Reforma Agrária é, em grande medida, solução para a enorme desigualdade de renda nesse país. É justamente por isso que os poderosos seguem criminalizando o MST, somos foco de tantos ataques porque combatemos o sistema”, explica Mahara. 

Desde 1998, os sem-terra revitalizam a área com larga escala de produção agroecológica. Por lá, é cultivado milho, feijão, mel, legumes e outros tipos de produtos, como os alimentos fitoterápicos das hortas medicinais.  De acordo com o MST, só no último ano, as famílias produziram 8,5 mil sacas de café e 1.100 hectares de lavouras, com 150 variedades de cultivo – tudo isso, sem o uso de agrotóxicos.  

Mahara Silva reafirma que promover a harmonia entre a população e o meio ambiente é uma das missões do MST: “Mostramos que existem outras formas de viver, sem exploração do trabalho nem da natureza.  Mostramos que existe a possibilidade de acesso e compartilhamento, por parte da classe trabalhadora, ao conhecimento científico e popular".  

 

Café premiado é ponto de partida 

O produto mais conhecido do Quilombo Campo Grande, inclusive internacionalmente, é o café Guaií. É um produto puro: 100% arábico, orgânico, sem nenhuma mistura que descaracterize seu sabor original. São 550 hectares de café. O Quilombo comercializa os grãos torrados e moídos por meio da participação da cooperativa em feiras e vendas a nível nacional. 

O café Guaií também está em diferentes países, como os Estados Unidos, Alemanha e até na China. Existem as linhas Café Popular, Guaií Sustentável e Guaií Orgânico. Todo este trabalho confere função social à terra, obrigatoriedade prevista pela Constituição. O MST entrega para a sociedade alimentação de alta qualidade.  

Agora é o momento de retribuirmos, ajudando na reconstrução da Escola Popular Eduardo Galeano e das casas destruídas. A cada R$12 na venda de um pacote de café Guaií, R$1 será revertido para o restabelecimento da instituição. O contato para a compra, para mais informações ou para se tornar uma loja parceira podem ser feitos pelo email comercial.guaii@gmail.com 

Mahara Silva deixa um apelo final: “Sigam compartilhando e denunciando ações truculentas como a ocorrida em nosso território, pois elas vão cessar. Sigam apoiando a Reforma Agrária e o fim de todas as desigualdades”. Você também pode contribuir pela campanha no Catarse: https://www.catarse.me/salveoquilombocampograndeagosto 

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