Bolsonaro usa privatizações para reconquistar apoio de ricos na campanha eleitoral



Bolsonaro usa privatizações para reconquistar apoio de ricos na campanha eleitoral

O ministro da Economia, Paulo Guedes, encerrou sua participação no Fórum Econômico Mundial, na Suíça, com uma promessa. Após dias reunido com representantes dos maiores bancos do mundo durante a semana passada, ele anunciou em entrevista coletiva que, se o presidente Jair Bolsonaro (PL) for reeleito, a Petrobras será privatizada.

A promessa (ou ameaça) de Guedes não surgiu ali. Dias antes de viajar à Suíça, ele já havia anunciado o início de estudos para desestatização da maior empresa do país – ideia que ele defende há anos, mas nunca viabilizou.

Ele e Bolsonaro, porém, indicam que “agora vai”. Atrás nas pesquisas de intenção de voto, o presidente e seu “Posto Ipiranga” resolveram dar fôlego à agenda de venda de estatais para atrair apoio de investidores interessados em lucrar com essas operações para a campanha de reeleição.

“Bolsonaro está com problemas no mercado”, disse Juliane Furno, economista-chefe do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE). “Uma das formas de ele ainda se fazer viável politicamente é entregando mais, convencendo esse setor [o mercado] de que ele ainda deve ser uma aposta.”

Segundo Furno, parte predominante do tal mercado já apoiou Bolsonaro em sua primeira campanha presidencial, em 2018, justamente pensando em se beneficiar da venda massiva do patrimônio público.

Guedes chegou a prometer repassar até R$ 1 trilhão de ativos públicos para a iniciativa privada – o que não ocorreu. Isso, de certa forma, frustrou as expectativas de grandes investidores interessados nesses negócios.

Bolsonaro e Guedes sabem disso. Segundo Simone Deos, professora do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), para tentar reconquistar essa pequena mas influente fatia do eleitorado, eles resolveram dar sinais mais claros de que, desta vez, as privatizações sairão do papel.

“Há muito dinheiro e interesse nesta eleição”, disse Deos. “Para quem está interessado só em lucro, a privatização de uma Petrobras ou dos Correios seria uma grande coisa.”

Em busca de um grande apoio

Segundo Deos, a tática de Bolsonaro é arriscada. Ela disse que, com o preço da gasolina em alta justamente por conta de uma política pró-mercado da Petrobras, dificilmente uma grande quantidade de eleitores concordaria com a privatização.

Uma pesquisa do Ipespe realizada em maio indica que só 38% dos brasileiros são favoráveis à desestatização da empresa; 49% são contra.

Apesar disso, ao prometer a privatização, um grande banqueiro, por exemplo, poderia declarar seu voto em Bolsonaro. Durante a campanha, numa entrevista, esse banqueiro tende a ressaltar supostos benefícios da venda da empresa. Parte da opinião pública pode mudar.

“Bolsonaro quer um André Esteves [sócio e presidente do banco BTG Pactual] o apoiando”, exemplificou Deos. “O BTG poderia trabalhar na privatização da Petrobras. Esteves teria o interesse de fazer campanha por Bolsonaro pensando nesta privatização”.

“A privatização das grandes estatais está se tornando uma moeda de troca”, ratificou André Roncaglia, economista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Estão tentando ganhar apoio da classe mais endinheirada e, depois, da classe mais popular falando que estatais encarecem produtos e não prestam serviços que a população merece.”

Em entrevista ao programa Alerta Nacional, do apresentador bolsonarista Sikêra Júnior, o presidente afirmou que a Petrobras quer “arrancar dinheiro do povo” ao vender gasolina e diesel a preços tão altos. Apesar das críticas, até o momento, Bolsonaro não tomou qualquer atitude concreta para mudar a política de preços praticada pela estatal.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pré-candidato líder nas pesquisas de intenção de voto para presidente, já declarou ser contra a privatização da Petrobras e que vai “abrasileirar” os preços praticados pela estatal se for eleito. Ciro Gomes (PDT) e outros pré-candidatos de partidos de esquerda também são contra a privatização.

Vender por vender

Segundo o próprio Bolsonaro, caso a ideia de vender a Petrobras avance, ela demoraria cerca de quatro anos para se concretizar. No caso dos Correios, um projeto de lei sobre a privatização já foi aprovado na Câmara dos Deputados, mas parou no Senado. Não há nenhum indicativo que possa avançar ainda neste ano.

No caso das duas empresas, ainda não há um projeto definido do governo sobre o que será delas pós-privatização e o que será feito do eventual dinheiro das vendas.

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão (Republicanos), já disse que uma nova estatal pode ser criada para garantir que correspondências cheguem a pequenos municípios caso os Correios sejam desestatizados.

Bolsonaro, por sua vez, disse que a Petrobras poderia ser dividida em empresas menores antes da transferência à iniciativa privada.

Para a professora Deos, essas ideias vagas sobre as eventuais privatizações demonstram a falta de visão do governo sobre o futuro do país. Segundo ela, enquanto países retomam controle de suas empresas de energia num momento de crise mundial, o Brasil prepara a venda da Eletrobras e discute desestatizar a Petrobras.

“Essas empresas têm um papel estratégico”, afirmou ela. “A Petrobras, sob controle do governo, deveria liderar a transição energética do país.”

Fonte: Brasil de Fato | Curitiba (PR), por Vinicius Konchinski

 

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