Bolsonaro não cumpre promessa de campanha e quer privatizar sistema elétrico



Bolsonaro não cumpre promessa de campanha e quer privatizar sistema elétrico

Durante sua campanha eleitoral para a Presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL) prometeu aos trabalhadores e trabalhadoras da Eletrobras que não iria privatizar a estatal, já que o sistema energético do país era, até então considerado por ele, estratégico. Hoje, presidente, Bolsonaro mudou de ideia e quer implantar o modelo neoliberal econômico do atual ministro da Economia, o banqueiro Paulo Guedes, e vender tudo, entregando assim o sistema elétrico brasileiro ao capital internacional .

“Bolsonaro disse que o processo de privatização seria suspenso. Só que agora o governo está tocando a privatização dizendo que é abertura de capital. Ele joga papéis da Eletrobras no mercado para o Estado perder o controle acionário da estatal e, consequentemente das suas controladas como Furnas, Eletronorte, Chesf e Eletrosul e CGTE”, explica Felipe Araújo, diretor do Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro e da Associação dos Empregados de Furnas (ASEF).

Araújo conta que Furnas é a maior empresa do sistema Eletrobras, presente em 14 estados e no Distrito Federal, e que ela é responsável por cerca de 11% da capacidade instalada de geração, 20% das linhas de transmissão e 40% da capacidade de transformação do Brasil, além de ser lucrativa e distribuir dividendos à Eletrobras. No ano passado, o lucro líquido foi superior a R$ 1 bilhão.

“Furnas não é deficitária, é lucrativa. Conseguiu sair do déficit em 2016, mesmo renovando concessões importantes a preços bem abaixo do que o mercado privado pratica. A ideia de privatização para cortar custos não se mantém de pé numa discussão técnica. A discussão, na verdade, que a direção omite, é baseada na ideologia neoliberal deste governo”, critica.

Diante do desmonte que começou após o golpe de 2016, no governo de Michel Temer (MDB-SP), e que continua sendo aplicado pelo governo Bolsonaro, uma Frente Parlamentar em Defesa de Furnas, suprapartidária, será lançada no próximo dia 9 (terça-feira), na Câmara Federal, em Brasília, às 11 horas.

“Nossa luta é urgente porque o ministro das Minas e Energia, Bento de Albuquerque, sinalizou que ainda este mês deverá apresentar o modelo de privatização do sistema Eletrobras, que nos afetará diretamente”, diz Felipe Araújo.

Direção quer demitir mais de mil trabalhadores e mudar sede

O dirigente conta que em 2017 começaram o sucessivos planos de desligamentos incentivados sem a menor preocupação com a gestão do conhecimento ou reposições, e, consequentemente, teve início a precarização da mão de obra.

Segundo Araújo, foram cerca de 800 funcionários concursados desligados por meio desses planos entre dezembro de 2016 e dezembro de 2018. Ainda assim, a empresa, que no final do ano passado contava com 3.037 funcionários, abriu outros planos de demissões em busca de mais cortes.

”Agora, um dos maiores esforços da diretoria de Furnas é demitir cerca de mil empregados, o quanto antes, para melhorar seu bônus salarial ao final do ano e atender a uma determinação da Secretaria de Governança das Estatais (SEST), que por meio da Portaria 1.968 de 2019, que fixou o limite máximo do quadro de pessoal próprio de Furnas em 2880 empregados. Ou seja, mesmo após essa demissão de mais de mil empregados ainda seria necessária a demissão de quase outras duas centenas de pessoas”, critica Araújo.

O engenheiro de Furnas explica que para conseguir as demissões desses quase 1.200 trabalhadores , a direção da empresa tenta desatar um nó jurídico. Houve um acordo com o Ministério do Trabalho (MPT) e mesmo assim 108 funcionários foram demitidos sem as devidas contrapartidas da empresa. Com isso, as demissões escalonadas, previstas no acordo, foram totalmente suspensas.

Para piorar a situação, a direção de Furnas anunciou que o complexo de prédios, no bairro de Botafogo (RJ), que é sede da empresa há quase meio século, deve ser desocupado e os funcionários serão transferidos para um edifício próximo à Central do Brasil, no centro do Rio. Outros 300 funcionários devem ir para o bairro de Jacarepaguá, numa área com pouquíssima infraestrutura e comércio. A direção alega que vai economizar com o valor do aluguel atualmente pago pela sede.

"A transferência da sede é um ato mais do que simbólico de desmonte da empresa, que vai afetar não só os trabalhadores de Furnas como comércio local, as comunidades carentes onde a empresa atua em projetos sociais, além dos próprios moradores da região, com a perda da segurança que a empresa promove no bairro", avalia o engenheiro.

Já para o comércio local, diz Araújo, pode significar o fechamento de muitos bares e restaurantes que vêm perdendo a clientela com as mais de 800 demissões no passado recente. Por isso, as associações de funcionários e sindicatos pretendem reunir os empresários da região contra a mudança da sede da empresa para juntos darem um abraço simbólico em torno do prédio, na próxima sexta-feira (5), às 11h30.

Os trabalhadores também, por meio da Associação dos Contratados de Furnas (ACEP), a Associação dos Aposentados de Furnas (Após-Furnas) e a ASEF,  lançaram uma nota de repúdio contra a decisão da empresa. 

De acordo com Araújo, a sede da empresa conta com inúmeros símbolos que reforçam a conexão dos funcionários com a sua missão mais nobre de desenvolver o Brasil. São prédios construídos com concreto de barragem, e que possuem nomes de antigos trabalhadores da empresa, além de obras de arte feitas por ex-funcionários, como a que está presente na entrada do complexo.

“Foram prédios projetados e construídos com um único propósito: abrigar os funcionários de uma empresa que seria responsável pelo desenvolvimento de uma Nação, e assim seguimos. Quando você quer reduzir apenas custos, você poderá estar, como é o caso, destruindo valor, destruindo a história, a cultura empresarial e a moral do corpo dos funcionários. A consequência disso será menos comprometimento do trabalhador com os líderes da empresa”, diz Felipe.

O dirigente alerta ainda que para o consumidor, a mudança da sede significa a queda da qualidade no atendimento e perda de valor da marca Furnas.

“A precarização do trabalho agrega o risco operacional do sistema, como aconteceu na década de 1990, em que houve apagões com a retirada do planejamento e operação das mãos da Eletrobras para a criação de um novo modelo para o setor elétrico”, lembra o engenheiro, que critica ainda a visão anacrônica dos gestores que só enxergam custos:  “Para eles é custo, receita e ponto. Infelizmente eles não têm uma visão moderna de gestão, comum em empresas de alto desempenho. Não é assim que elas funcionam”, critica.

Fonte: CUT

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