Nem mesmo no debate entre candidatos à Presidência – realizado no domingo por UOL, Band, Folha de S.Paulo e TV Cultura – Jair Bolsonaro (PL) conseguiu evitar ataques às mulheres. Em geral, nesses eventos os candidatos seguem um roteiro rígido estabelecido por assessores e estrategistas de campanha, mas o atual mandatário mais uma vez se destacou negativamente por sua postura, no mínimo, grosseira ante o público feminino.
Logo no segundo bloco, o chefe do Executivo perdeu a compostura com a jornalista Vera Magalhães, que fez uma pergunta para Ciro Gomes (PDT) responder e o presidente comentar. “A cobertura vacinal está despencando nos últimos anos. Em que medida a desinformação difundida pelo presidente pode ter agravado a pandemia de covid?”, perguntou Vera.
Após a resposta de Ciro, o presidente atacou: “Vera, não podia esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido num debate como esse, fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo, mas tudo bem”, disparou o chefe do Executivo.
Reação imediata
As senadoras Simone Tebet (MDB-MS) e Soraya Thronicke (União Brasil-MS) reagiram à misoginia durante o debate. “Quero dizer para o presidente, eu não tenho medo nem de você nem dos seus ministros. Recebi violência política na CPI, um ministro seu tentou me intimidar porque denunciei um esquema de corrupção da vacina que vossa excelência não quis comprar”, disse a emedebista.
“Quando homens são tchutchuca com outros homens, mas vem para cima da gente sendo tigrão, eu fico extremamente incomodada”, afirmou Soraya, em passagem que repercutiu nas redes.
Nas redes sociais, a reação foi imediata. “Já fui atacada por Bolsonaro. Seus robôs me atacam todos os dias. Ele foi condenado por isso! Mulheres na política, jornalistas, trabalhadoras em geral, mães, somos atacadas. Vera Magalhães e Simone Tebet foram desrespeitadas. Me solidarizo com elas!”, postou no Twitter a deputada Maria do Rosário (PT-RS), que ganhou ação na Justiça por ofensas que sofreu de Bolsonaro. “Esse canalha tem que agredir a mulher. Sempre!!!”, acrescentou Maria do Rosário.
“Minha solidariedade à jornalista @veramagalhaes e à @simonetebetbr. Bolsonaro machista e referencia da violência e ódio”, postou a também deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ). “Machista! Ataca uma jornalista por ter escancarado a criminosa ação deste desgoverno para desestimular a vacinação”, disse ainda a parlamentar fluminense.
Em um momento do debate, Bolsonaro afirmou que as acusações de que é misógino é “joguinho de mimimi”. Ao ser questionado por Tebet sobre suas posições contra as mulheres, o chefe do governo condenou o que chama de “vitimismo”. “O que a senhora fez? Vem com discurso barato, que eu ataco, que agrido as mulheres. Não cola mais, não cola isso”, disse ele à candidata do MDB. “Hoje uma mulher, se porventura se faz algo errado, ela tem que responder por isso e não ser defendida só porque é mulher. Chega de vitimismo. Somos todos iguais”, acrescentou.
“Ideia fixa”
Vera Magalhães foi apoiada por colegas nas redes sociais. “Bolsonaro, ao se irritar com a pergunta jornalística de @veramagalhaes sobre vacinas – ataca e – claro – o alvo é mulher”, postou a repórter da GloboNews Andréia Sadi. “Incrível. Ideia fixa é a mira do presidente para atacar e agredir mulher”, escreveu ainda.
“Essa atitude reitera uma prática machista e misógina adotada por ele e que vem sendo monitorada pela Abraji em levantamento com recorte de gênero. A Abraji se solidariza com a jornalista e exige que o presidente respeite as profissionais que trabalham na imprensa”, destacou a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
Ao final do debate, a própria Vera comentou o episódio. “Foi uma resposta lamentável e absurda. Minha pergunta era sobre vacina, ele não falou nada sobre vacina, não respondeu. Não falou por que demorou a comprar as vacinas contra a covid-19 nem por que propagou fake news e desinformação a respeito da eficácia e segurança das vacinas”, disse Vera.
Fonte: Rede Brasil Atual