O famoso crédito rotativo do cartão, que existe no mundo inteiro, não existe de verdade no Brasil. As taxas de juros cobradas pelas empresas de crédito brasileiras, se comparadas com os países da América Latina, são as mais caras e abusivas. Podem ser comparadas com as taxas cobradas por um agiota.
A avaliação é do economista Maurício Gutemberg, mestre em economia pela Universidade de São Paulo (USP), e foi feita em artigo publicado no Portal UOL.
Com a inflação acumulada de 4,9%, a taxa média cobrada no cartão de crédito em março de 2019 foi de 299,5% ou o equivalente a 280,8% em termos reais. Essa linha de crédito é usada por quem atrasa o pagamento da fatura do cartão ou não paga o valor integral por mais de 30 dias.
“Assim”, diz o economista no artigo, “não podemos dizer que exista crédito rotativo no cartão de crédito no Brasil. Parece ser palavrão dizer que, eventualmente, é necessário parcelar uma dívida de consumo sem grande complicação, como ocorre em qualquer lugar do mundo civilizado”.
São taxas só comparáveis à agiotagem, mas cobradas por bancos e empresas financeiras reguladas pelo Banco Central do Brasil- Maurício Gutemberg
No artigo, o economista apresenta levantamento que fez mostrando que, nos Estados Unidos, 29% das faturas do cartão de crédito são pagas à vista, o que significa que 70,9% estão no crédito rotativo. O montante representa US$ 1,1 trilhão ou 5,1% do PIB (Produto Interno Bruto) e a inadimplência atual é de 2,74%, sendo que a máxima histórica foi de 3,68%.
No México, explica ele, onde a taxa de inadimplência (5,3%) é muito próxima à brasileira (5,8%), o crédito rotativo também é a opção da maioria, correspondendo a 71,1% das faturas.
Já no Brasil, devido às taxas abusivas, a lógica é inversa. A população prefere consumir menos a ter de entrar no crédito rotativo. Enquanto apenas 21,5% recorrem ao rotativo, a maioria (78,5%) prefere pagar a fatura à vista.
“Parece ser uma ofensa a pessoa física parcelar um pagamento, e parece que a sociedade dá carta branca para serem cobradas taxas abusivas sem nenhum parâmetro razoável. Tanto que não existe muita diferença do que é cobrado de quem decide parcelar o cartão e do inadimplente que simplesmente deixa de pagar integralmente o valor devido”, avalia Gutemberg no texto exclusivo para o UOL.
Segundo o economista, se considerar que a maior parte dos cartões de crédito é emitida pelos bancos que conhecem o histórico de gastos dos clientes e que, por isso, há limites de crédito a utilizar no mês, os bancos deveriam cobrar taxas razoáveis.
“Qualquer consumidor que conscientemente recorre ao crédito rotativo, parcelando o pagamento na taxa acordada, está assumindo que, com grande probabilidade, estará inadimplente num período de tempo bastante curto”, diz.
Fonte: CUT