O desmonte do serviço público de qualidade segue a todo vapor no governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL). Mais uma vez, o Banco do Brasil é alvo de demissões que precarizam o atendimento e facilita a privatização. Sem se importar com o atendimento dos seus clientes, que mantêm mais de 73 millhões de contas espalhadas por todo o país, a direção do BB, rezando a cartilha neoliberal do ministro da Economia, o banqueiro Paulo Guedes, anunciou na segunda-feira (11) que quer demitir até 5 de fevereiro deste ano, cinco mil trabalhadores e trabalhadoras, por meio de um Plano de Demissão Voluntária (PDV).
Além das demissões, serão fechadas 112 agências, 242 postos de atendimento (PA) e sete escritórios, num total de 361 unidades (ainda não foi anunciado os locais ). O comunicado foi feito ao mercado financeiro pelo vice-presidente de Gestão Financeira e Relações com Investidores, Carlos José da Costa André.
Essas demissões e fechamentos de unidades se somam aos 17.758 empregos cortados e ao encerramento de 1.058 agências, entre o início de 2016 (ano do golpe contra a ex-presidenta Dilma) e o terceiro trimestre de 2020, o que representa uma queda de 16% e 19% respectivamente, de acordo com o último dado disponível sobre o Banco do Brasil. Por outro lado, no mesmo período, o número de clientes do BB cresceu 15%, um acréscimo de 9,4 milhões..
Visando apenas ganhar mais, o Banco do Brasil diz que vai “economizar” R$ 353 milhões em 2021 e R$ 2,7 bilhões até 2025, apesar do lucro bilionário que vem obtendo. Entre 2016 e 2019, o lucro líquido ajustado do BB apresentou crescimento de 122%. Era de R$ 8,033 bilhões em 2016 e subiu para R$ 17,848 bilhões em 2019 (o dado completo de 2020 ainda não foi divulgado). No mesmo período as receitas de tarifas e prestação de serviços do banco cresceram 22%, passando de R$ 24 bilhões para R$ 29,2 bilhões.
“Ao fechar agências e, priorizando o atendimento eletrônico, o Banco do Brasil impede o acesso dos mais idosos e dos que têm baixa escolaridade, não familiarizados com o método, e até mesmo os micro e pequenos empresários, donos de bares, restaurantes e pequenos supermercados que ainda utilizam os caixas do BB para o depósito de malotes de dinheiro. Quem conta esse dinheiro é o bancário que trabalha no Caixa”, alerta João Fukunaga, secretário de assuntos jurídicos do Sindicato dos Bancários de São Paulo e funcionário do Banco do Brasil.
O dirigente acrescenta que a alegação do BB de que as pessoas estão utilizando mais os canais alternativos de atendimento eletrônico não encontra eco nos locais mais distantes dos grandes centros, como a capital de São Paulo.
“Ao reduzir o atendimento a direção do BB desmonta o papel social de um banco público, aumentando as filas e dificultando o acesso. O idoso que tem conta no Banco do Brasil vai procurar outra instituição financeira para poder movimentar melhor a sua conta. Ele não vai sair do seu bairro para locais distantes para ser atendido” acredita Fukunaga.
Outro ponto considerado muito ruim pelo dirigente sindical é que o fechamento de agências distantes dos centros urbanos dificultará ao acesso aos agricultores familiares que dependem do crédito do banco. 55% de todo o crédito da agricultura familiar é proveniente do BB.
“O Banco do Brasil tem a sua maior carteira junto ao agronegócio, mas está abandonando o pequeno agricultor. Em São Paulo, por exemplo, a prefeitura suspendeu os contratos com uma cooperativa ligada à Unisol, para fornecimento de alimentos que compõem a merenda das escolas municipais. Sem uma agência do BB próxima, esse agricultor vai procurar uma agência de um banco privado com taxas de juros extorsivas”, lamenta Fukunaga.
Pressão para aderir ao PDV
Segundo Fukunaga, a direção do BB quer demitir os trabalhadores e trabalhadoras com mais tempo de casa, o que vai fazer o banco perder expertise, a experiência dos mais velhos. E uma das formas de pressão para a adesão ao PDV é rebaixar os cargos e salários. O banco definiu que vai demitir quem tem mais tempo de casa e possa a receber, no máximo, R$ 450 mil de indenização com as regras do PDV que costumam ser mais vantajosas do que as demissões normais.
“Um gerente que ganhe quatro, cinco vezes a mais do que um escriturário vai aceitar a demissão voluntária por que sabe que adiante pode perder o cargo, voltando a receber um salário bem menor, o que impactará na vida financeira dele e da família”, afirma o dirigente sindical.
Ainda de acordo com Fukunaga, o sindicato está trabalhando para saber onde ficam as unidades que serão fechadas e transformadas de agências para Postos de Atendimento.
Fonte: CUT