O povo baiano já está pagando caro pela privatização da antiga Refinaria Landulpho Alves (Rlam), comprovando o que a CUT e os petroleiros sempre alertaram: a iniciativa privada quer comprar estatais lucrativas a preço de banana, demitir trabalhadores e reajustar abusivamente os preços dos produtos e serviços para lucrar cada vez mais.
A refinaria, que agora se chama Acelen e pertence ao grupo árabe Mubadala, vem praticando reajustes maiores do que os da Petrobras desde o ano passado, quando assumiu a unidade, e o povo baiano está pagando, em média, R$ 8 pelo litro da gasolina, R$ 7,50 pelo diesel e R$ 120,00 pelo botijão de 13 quilos do gás de cozinha.
Desde a venda da refinaria, em 1º de dezembro do ano passado, os preços praticados pela empresa para a gasolina estão 26,8% mais caros do que os da Petrobras; o diesel 35,12% e o gás de cozinha 8,17%, acima dos da estatal.
Com esses reajustes, os trabalhadores que precisam do carro para trabalhar ou desistem e vão fazer bicos ou apertam os cintos em casa enquanto puderem. Este é o caso do motorista escolar, Tadeu Silva Santos, de 47 anos, há sete trabalhando no setor.
“De outubro a dezembro do ano passado eu gastava em média R$ 300 por semana para encher o tanque de diesel, agora fica entre R$ 500 e R$ 550. Resumindo, gasto um real para cada quilômetro rodado”, diz Tadeu.
“Isto significa gastar quase metade do meu ganho de R$ 5 mil ao mês com combustíveis, já que em quatro semanas, o valor pago chega a R$ 2.200”, complementa Tadeu fazendo as contas dos seus gastos com diesel.
Estudo confirma que baianos são os mais afetados
Um levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a pedido do Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro-BA), a partir dos preços cobrados pela Acelen de 1º de dezembro de 2020, data da venda, até a última quarta-feira (9/3), confirma a discrepância dos percentuais de reajustes praticados entre as refinarias mais próximas da Bahia: a de Minas Gerais e de Pernambuco, ambas da Petrobras.
O resultado 120 dias após a venda é um total descompasso com a realidade do que pode pagar o povo baiano pelos combustíveis, afirma o presidente do Sindipetro-BA, Radiovaldo Costa. Segundo ele, o levantamento mostra que a Política de Preços de Paridade Internacional (PPI) praticado pela Petrobras, que já era nociva à população brasileira, com a Acelen ficou pior.
Os avisos do Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro-BA), da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e da CUT de que a venda da Rlam e das outras refinarias seriam extremamente prejudiciais aos brasileiros foram muitos, mas em sua sanha privatista, o governo de Jair Bolsonaro (PL) não se importou em entregar a estatal a um grupo estrangeiro, e ainda pela metade do preço do mercado.
“A privatização é muito pior que do que a gente já anunciava que seria. Nessa linha, a Acelen vai quebrar a economia da Bahia. Com os aumentos dos combustíveis o povo baiano vai viver com a maior inflação do país, com aumentos de preços dos alimentos, dos transportes, diminuindo a renda do trabalhador que acabará sendo demitido por que não terá quem possa pagar pelo preço do arroz, do feijão ou mesmo uma peça de roupa”, alerta Radiovaldo.
Além dos preços altos, a FUP já havia alertado, desde 2015, quando houve a primeira sinalização do projeto de privatização da área de refino, que haveria monopólios regionais, desabastecimento e reajustes para o consumidor final, ressalta o Coordenador-Geral da FUP, Deyvid Bacelar.
“Já temos desabastecimento de óleo combustível para os navios por que a empresa prefere exportar do que atender o mercado interno. Também está obrigando as empresas distribuidoras da Bahia a comprarem somente na Acelen, inclusive em outras regiões como no norte de Minas Gerais e outros estados do Nordeste que a empresa atende”, denuncia Bacelar.
Aumentos provocam perda de rendimento das famílias
Cortar o pouco de lazer que tinha e comprar somente o básico para a sobrevivência por causa da alta dos combustíveis já faz parte da vida de Tadeu Silva Santos e de seus colegas motoristas de vans escolares.
Casado, pai de um casal de filhos, de 16 e sete anos, ele conta que de 2019 para cá já perdeu 50% de seus rendimentos, e que para sobreviver trabalha de segunda a segunda. Quando não está transportando alunos, faz transportes para empresas, eventos e até para funerais.
“A palavra mais adequada que reflete a nossa vida é sofrimento. As coisas já não estavam bem antes da pandemia. Com a crise em 2019, os pais de alunos começaram a abandonar o transporte escolar. Uns porque tiveram de trocar seus filhos de escola por uma mais barata, outros por que não conseguiam pagar mais. Cheguei a levar 20 alunos e hoje tenho apenas sete”, conta Tadeu.
Além da pandemia em 2020, os altos preços dos combustíveis na Bahia, contribuíram muito para a quebradeira do setor de transporte escolar.
Segundo Tadeu, de um grupo de 25 amigos da profissão, sete desistiram do transporte escolar; outros três tiveram busca e apreensão por não conseguirem pagar o financiamento do veículo e os que conseguiram pegar dinheiro emprestado estão até hoje sofrendo para pagar a dívida.
“Em 2019 foram de sete a oito reajustes nos preços do diesel, que é o combustível que usamos; na pandemia este número diminuiu, mas hoje está muito acima”, diz Tadeu.
O último reajuste feito pela Acelen, ocorreu de sábado (5) para domingo (6) e, segundo Tadeu, ninguém sabia, nem mesmo os donos de postos de combustíveis. Ele diz que um amigo, supervisor num posto de gasolina, comprou combustível no sábado e na entrega, no domingo à tarde, o preço da nota a pagar já veio a maior.
“Com tanta perda de renda só nos resta manter o essencial, nada mais além. Há muito tempo que não sabemos o que é fazer uma ‘extravagância’. Tudo o que ganhamos vai embora no básico e na educação dos meus filhos que faço questão de manter. E ainda temos de agradecer quando o carro não quebra, ou haja eventuais despesas extras”, conclui o motorista.
FUP quer reverter privatização
Os efeitos nocivos da privatização da Rlam estão sendo denunciados pelos petroleiros no Procon Estadual, e no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) que avalizou a venda da refinaria.
“Temos também ação no Supremo Tribunal Federal para que a venda seja considerada ilegal, por que não houve licitação e muito menos aval do Congresso Nacional. Acreditamos que num próximo governo Lula, a venda possa ser revertida por que está repleta de ilegalidades”, conclui Deyvid Bacelar.
Fonte: CUT Brasil, por Rosely Rocha