Tema foi discutido durante a IV Conferência Estadual de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora de Minas Gerais em Belo Horizonte
Muito se fala nos benefícios que a tecnologia trouxe para o mundo do trabalho, especialmente, em relação à mecanização de processos que antigamente eram realizados por meio da força humana. Entretanto, a mesma tecnologia que reduziu a necessidade de força física e agilizou processos de produção, também trouxe impactos negativas para a saúde do trabalhador. O tema foi discutido durante a IV Conferência Estadual de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora de Minas Gerais, realizada entre os dias 28 a 31 de maio em Belo Horizonte.
Segundo a médica e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UMFG), Elizabeth Costa Dias, os avanços tecnológicos aceleraram o ritmo e a intensidade do trabalho e estendeu a jornada para além dos muros das empresas. "Hoje há uma infiltração do trabalho em nosso cotidiano e não nos desligamos mais. Isso tem um custo alto na saúde do trabalhador", alerta.
Ainda conforme a professora, essas mudanças vêm alterando o perfil de adoecimento e morte de trabalhadores no Brasil. "Ainda temos registros de velhas formas de doenças que acometiam os trabalhadores há alguns anos, como a silicose, além de um crescimento das doenças crônicas, que possuem uma profunda ligação com o trabalho, e dos casos de adoecimento mental como ansiedade e depressão".
Já o auditor fiscal do Trabalho e especialista em Saúde do Trabalhador, Mário Parreiras de Faria, alerta também para doenças osteomusculares e stress, cada vez mais presentes no ambiente de trabalho. Além disso, ele afirmou que o parque industrial brasileiro ainda é muito obsoleto, com máquinas da década de 40, e que isso é a causa de muitos acidentes de trabalho no país. "48% dos acidentes acontecem com dedos, mãos, braços e ombros e, na maioria das vezes, são fraturas e amputações provocadas por máquinas antigas", afirmou.
Ele destacou ainda que um estudo realizado recentemente pelo Departamento de Psicologia da UFMG em uma montadora de automóveis em Betim identificou que as principais causas de adoecimento entre os funcionários estavam relacionadas a transtornos mentais, distúrbios do sono em função do trabalho em turnos e fadiga nervosa. Além disso, o estudo revelou que muitos trabalhadores se automedicavam para dormir e alguns tomavam remédio para conseguir trabalhar, já que sentiam um cansaço excessivo durante o dia.
"Essa mudança no perfil de adoecimento dos trabalhadores brasileiros é um reflexo das mudanças tecnológicas e da terceirização potencializadas pelo 'turbo-capitalismo' que é o capitalismo levado ao extremo, às máximas consequências. É quando se busca o máximo lucro em menor tempo possível e, tudo isso, às custas do empregado", afirmou o auditor.
Ainda segundo Mário Parreiras, outro problema que agrava a situação é a falta de recursos para a saúde do trabalhador. De acordo com dados apresentados pelo especialista, em 1992 o investimento brasileiro no setor era de US$ era de 19 milhões enquanto este ano é de R$ 1,3 milhão. Em contrapartida à redução do orçamento, o número de acidentes vem aumento e hoje a média de um acidente de trabalho a cada minuto ou 67 por hora.
"E essa é somente a ponta do iceberg porque as estatísticas que temos acesso são apenas em relação aos trabalhadores de carteira assinada, ou seja, ficam de fora os domésticos, militares, autônomos, servidores públicos e trabalhadores informais. Além disso, muitas empresas subnotificam os casos de acidente com funcionários", concluiu o auditor fiscal do Trabalho.