O massacre de Eldorado dos Carajás, assassinato por policiais de 21 trabalhadores sem-terra no Pará, completou 25 anos no sábado (25). A data, marcada como Dia Internacional da Luta Camponesa e Nacional de Luta pela Reforma Agrária, foi lembrada em diversas localidades do país e também no exterior, com protestos e atividades solidárias. Foram realizados fechamentos de rodovias e passeatas, distribuição de alimentos e plantio e doação de mudas de árvores.
A curva do “S”, em Eldorado do Carajás, foi palco do maior massacre contra camponeses em luta da história recente do país. Ao marchar para a capital paraense, milhares de sem-terra foram impedidos de seguir e, no fatídico 17 de abril de 1996, um destacamento policial abriu fogo, assassinando brutalmente os 21 trabalhadores. O episódio ganhou repercussão internacional e a data foi declarada pela Via Campesina, organização internacional de camponeses, como um marco na luta pela terra em todo o mundo.
Para lembrar a data, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) organizou bloqueios em rodovias estaduais e federais, mobilização seguindo os cuidados com a vida pertinentes ao tempo de pandemia. Cada um teve a duração de 21 minutos em memória aos 21 mortos no massacre e teve como chamamento a expressão “Pelos nossos mortos nenhum minuto de silêncio, mas luta por terra, trabalho e reforma agrária popular!”
Logo depois, a partir das 10h, foi realizado o Ato Político-Cultural em Memória aos 25 Anos do Massacre de Eldorado do Carajás, com transmissão online pelas redes sociais. Além disso, desde o dia 9, a Juventude Sem Terra mobiliza, também em modalidade virtual, o Acampamento Pedagógico da Juventude Oziel Alves.
O cantor e compositor Chico Buarque se manifestou por meio de um vídeo em que lê o trecho do livro O massacre: Eldorado do Carajás – uma história de impunidade, em que Eric Nepomuceno narra o momento da brutalidade. “Queria aqui manifestar meu respeito pelo MST, minha solidariedade, minha admiriação pela luta, sabendo que o movimento cresceu, o MST se desenvolveu, se firmou, mas está sempre correndo perigo. Um grande abraço.”
Protesto e solidariedade
No Pará, estado onde ocorreu a chacina, a Transamazônica (BR 230) foi trancada pelas familias assentadas do 1º de Março e outros grupos de camponeses do município de São João do Araguaia. A BR 155 também foi fechada, pelos acampamentos Helenira e Hugo Chávez. Em Curionópolis, o acampamento Frei Henri realizou um ato.
Na Bahia, o MST fechou as BRs 110, no município de Paulo Afonso, 235, em Canudos, e 101, no trevo de Arataca. Também foram realizados atos na BR 93, região do Recôncavo Baiano, e na BR 101 nos municípios Eunápolis e Wenceslau Guimarães. Estas duas últimas em ações organizadas pela Brigadas Costa do Dendê, Ojefferson Santos e Dandara. Na Chapada da Diamantina houve distribuição de mudas.
No Mato Grosso, o bloqueio foi no quilômetro 464 da BR 163/364. Além disso, foram estendidas faixas em assentamentos e acampamentos ligados ao MST e também na capital Cuiabá, denunciando a impunidade do massacre e as políticas genocidas do governo Bolsonaro diante da pandemia de covid-19.
Houve mobilização também no Paraná, com o acampamento Herdeiros da Luta de Porecatu, Zilda Arns, Manoel Jacinto e Fidel Castro, do norte do estado. Eles trancaram a rodovia João Lunardelli, PR 170, no município de Porecatu, e fizeram distribuição de alimentos. Os assentamentos Eli Vive, de Londrina; Dorcelina Folador, de Arapongas; Maria Lara, de Centenário do Sul; Florestan Fernandes, de Florestópolis; Iraci Salete, de Alvorada do Sul; e Barra Bonita, do município de Primeiro de Maio, também doaram alimentos para a ação.
As atividades começaram com a benção dos alimentos pelo Padre Dirceu Fumagalli na praça do União da Vitória IV. A ação foi organizada em parceria com o movimento Levante Popular da Juventude, setores da Igreja Católica e a campanha Periferia Viva.
Ceará, Pernambuco e até no exterior
No Ceará, famílias sem-terra do assentamento Manoel João Timóteo, município de Jati, realizaram plantio de mudas frutiferas, hasteamento da bandeira e trancaram a CE 390. Também houve mobilização no assentamento Oziel Alves, em Ararendá, e distribuição de mais de 600 mudas frutíferas no 25 de Maio, em Madalena.
Em Pernambuco, houve mobilizações no acampamento Lula Livre, no município de Vitória de Santo Antão, e no Antônio Cândido, cidade de Goiana, além de plantio no assentamento Virgulino Ferreira, em Serra Talhada.
Já no Rio de Janeiro, foi realizado um ato simbólico com velas em frente ao Armazém do Campo. No Tocantins, o ato foi no acampamento Mariele, em Augustinópolis. No Distrito Federal houve o trancamento da rodovia BR-020. No Rio Grande do Sul, o trancamento foi na BR 158, em Cruz Alta. Foram realizadas ações também fora do país, como na França e Haiti.
Fonte: Rede Brasil Atual