Episódios recentes e marcantes do racismo estrutural brasileiro, que geraram resistência antirracista, contaram com intervenções artísticas do mosaicista equatoriano Javier Guerrero. O artista elaborou uma placa com o retrato do imigrante congolês Moïse Kabagambe, violentado e assassinato no quiosque Tropicália, no Rio de Janeiro, no dia 24 de janeiro. O trabalho chegou às mãos da família de Moïse.
Já em 25 de junho, no marco da luta contra a cassação do ex-vereador Renato Freitas (PT), em articulação com o mandato e com a Cúria Diocesana, Guerrero instalou uma placa na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Benedito. Ali foi o local do protesto, em fevereiro, contra o assassinato de Moïse. A entrada dos manifestantes na igreja depois da missa serviu de pretexto para o processo que terminou com a cassação de Freitas.
“Renato mostrou coerência na defesa da população negra, dos moradores de rua do centro e da periferia. Ele nos representa. Meus trabalhos são sofridos. Sofro porque me entrego totalmente. Pela primeira vez em 32 anos de Brasil me sentia representado na Câmara”, afirma Guerrero, emocionado.
Visão social
No caso da obra de Javier, o artista realiza a aliança da técnica com a visão social da arte, bem como faz o resgate do imaginário da esquerda, por meio de série de retratos de homens e mulheres revolucionárias de cada país da América Latina e Caribe.
Nascido em Riobamba, ao sul do Equador, Guerrero participou da luta político-militar nos anos 80 no país. Foi preso e torturado. Na condição de exilado político, fixou-se em Curitiba nos anos 90. Sua obra retrata a história, as dores e os símbolos latino-americanos.
Guerrero é dos poucos artistas plásticos no Brasil cuja produção responde à agenda da luta de classes e dos movimentos populares. Retomando a tradição do muralismo mexicano e nicaraguense, seus trabalhos são feitos ou expostos em locais públicos.
Com isso, surgiram painéis, por exemplo, na época da solidariedade mundial com a Comuna de Oaxaca (México – 2006); mais tarde ele fez o painel do comunicador popular Anderson Leandro, brutalmente assassinado em 2012. Suas obras passaram também a denunciar a privatização da Petrobras e a fome, na época da prisão de Lula, em 2018.
“A realidade me obriga a fazer isso (obras políticas), e não peixes e flores, por exemplo. García Márquez falava que queria o socialismo o quanto antes para poder escrever algo que não fossem apenas tragédias”, compara.
Fonte: BdF Paraná, por Pedro Carrano