São de congelar o sangue os gritos de pavor dos adolescentes que se defrotaram com os atiradores em sua escola em Suzano, mostrados em vídeo que já está circulando. Nunca haverá explicação para o que fizeram os dois jovens assassinos, que tinham um revólver calibre 38 e se suicidaram em seguida.
Mas muitos detalhes serão desvendados, a começar pela identidade dos atiradores e de suas vítimas, e uma narrativa será contada sobre o crime de Suzano, que entrará para a história ao lado de outras atrocidades.
O que não dá para não pensar é que essa narrativa poderia ter tido um final diferente, sem dez mortos, ou talvez não estivesse nem sendo contada, se os jovens não tivessem um 38 nas mãos. O episódio de hoje está inserido no contexto geral da violência que nos assola, mas tem ingredientes semelhantes a outros tiroteios contra alunos brasileiros e, sobretudo, à onda de crimes em escolas que começou e virou lugar comum nos Estados Unidos.
Os jovens também usaram uma arma do tipo Besta, que atira flexas. Mas é evidente que as mortes foram provocadas pelos tiros do revólver.
Se, ao invés de estar tratando de uma flexibilização da posse e do porte de armas no Brasil e enviando ao Congresso projetos neste sentido, o governo Bolsonaro estivesse tratando de restringir essas regras, ainda poderíamos ter esperanças. Só que não.
O massacre de Suzano é um tapa na cara dos que, no poder e fora dele, defendem a liberação do porte e da posse de armas. Se estivesse conectada com a realidade do dia-a-dia dos brasileiros, a oposição já teria começado a convocar manifestações por todo o Brasil para dizer “não” ao armamento da população e ao discurso do ódio que está por trás dele.
Por Helena Chagas, jornalista, foi ministra da Secretaria de Comunicação e integra o Jornalistas pela Democracia