Aposentado vence batalha contra a Covid em 103 dias internado



Aposentado vence batalha contra a Covid em 103 dias internado

Ao procurar ajuda médica, no início de abril, para se tratar do que acreditava ser uma simples gripe, o aposentado Airton Carlos Lauriano dos Santos, 65 anos, foi internado de imediato no Hospital Santa Ana, em São Caetano do Sul, no ABC paulista, porque estava com 60% dos pulmões comprometidos.

A partir dali, foram ao todo 103 dias de internação: 49 na UTI, sendo 28 deles intubado e sedado, 51 na unidade semi-intensiva e 3 no quarto antes de ter alta, na sexta-feira (17). Na fase mais grave, ainda sobreviveu a duas paradas cardiorrespiratórias.

“Tomei vacina contra a gripe no dia 4 de abril. Como sempre me senti fraco depois, fiquei como se estivesse para ter febre. Estava incomodado e fui ao hospital pensando nisso, mas já estava com 60% do pulmão comprometido. Só fui sentir que não estava mesmo respirando bem quando estava próximo do hospital. Eu estava achando que estava tudo certo, que era só uma gripe que estava chegando”, conta Airton, que ainda é assessor da Universidade de São Caetano e tem uma imobiliária na cidade.

“O sr. Airton chegou com o quadro bem avançado da doença, numa fase em que a gente tem um pouquinho mais de dificuldade no manejo do paciente. Os primeiros 45 dias dele foram bem complicados na UTI. Teve duas paradas cardiorrespiratórias. Depois que voltou, investimos nele e assim começou a progredir”, explica o infectologista que o tratou, José Raphael Ruffato.

“Quando falaram que eu estava com a Covid, não sabia se chorava, o que eu fazia da vida ali naquele momento. Aí eles já me apagaram, porque eu estava me debatendo muito com medo. Acabei dormindo e eles me intubaram no dia seguinte”, diz Airton, que é diabético.

Segundo Ruffato, o paciente não fez uso da cloroquina para tratar a pneumonia, apenas antibióticos associados. No entanto, o coronavírus acabou atacando outros órgãos, como o coração e os rins, o que levou a equipe médica a usar anticoagulante e anti-hipertensivo, além de remédios para insuficiência renal e insulina para a diabetes. Na UTI, Airton também precisou passar por sessões de hemodiálise.

“Ele teve um quadro inflamatório muito intenso, com repercussão cardíaca, que provocou as paradas cardiorrespiratórias, teve repercussão nos rins, provocando insuficiência renal. E teve uma dificuldade muito grande para voltar a se alimentar”, lembra o infectologista.

Após quase um mês sedado, Airton diz ter acordado às 9h da manhã do dia 29 de maio, achando que tinha acabado de chegar ao hospital. “Eu me senti perdido. Fiquei pensando se havia perdido alguém? Será que alguém da minha família teria ficado doente? A gente fica preocupado, assustado. Aí os enfermeiros e médicos vinham falar comigo e explicavam que tive duas paradas cardíacas, que precisava fazer hemodiálise e que tive um problema sério na garganta, por causa da intubação”, relembra, deixando uma declaração de reconhecimento aos profissionais da saúde.

“Nunca dei tanto valor como estou dando agora para a classe de enfermagem e médicos, porque eles colocam a vida deles em risco para ajudar os outros. Eu sou testemunha disso. Temos de dar valor a esses profissionais, que são maravilhosos.”

Como não pôde ter a visita dos familiares, Airton conta que o que o ajudou a se recuperar foram as conversas com a equipe médica, que o animava no tratamento. “Chega um momento em que você fica sozinho. Nos altos eu estava muito feliz e nos baixos eu sentia muita falta da família. Só conseguia falar pelo celular. Eu mesmo conseguia fazer a ligação, mas bem debilitado. Você perde massa muscular. O médico disse que eu perdi em torno de 15 kg a 20 kg. Eu estava bem magro no fim.”

No dia da alta médica, Airton recebeu uma homenagem do hospital, com direito a vídeo com mensagens de familiares e do vocalista da banda Originais do Samba, Juninho Originais, o que o deixou muito emocionado.

“Quando saí do hospital, meu filho foi me buscar e demoraria uns 15 minutos de carro para chegar à casa da minha filha, onde estou ficando, já que minha mulher, Mara, 62, trabalha durante o dia. Demorei uma hora e dez minutos para chegar aqui. Rodei boa parte do bairro, da cidade, porque queria ver o povo e queria tomar sol. Fiquei três meses e meio no hospital e via o sol pela janela, mas não o sentia. Foi maravilhoso!”

Novos valores

Ainda no processo de recuperação da doença, Airton conta que o tempo em que passou no hospital o fez repensar a forma como encarava a vida.

“Meus valores eram ganhar dinheiro e trabalhar nisso, naquilo… Hoje eu penso primeiro na família, depois nos amigos, mas o mais importante é o terceiro: cuidar de mim mesmo. Se eu tivesse cuidado de mim, não tinha caído nessa, se tivesse usado máscara... Temos de pensar no futuro”, diz ele, explicando que quando ficou doente ainda não era comum o uso da máscara de proteção.

Ele também deixa uma mensagem para aqueles que ainda tratam a Covid-19 como uma gripe qualquer, mesmo depois de matar mais de 80 mil brasileiros.

“Eu também acreditava que nunca ia acontecer comigo. Por isso, o pessoal que se cuide, porque a coisa é séria, derruba mesmo a gente. Vejo muitos jovens nas ruas. Eles podem ter saúde e, se pegar, pode não dar em nada, mas eles podem levar esse vírus para o avô, o pai, a mãe. Tem de tomar muito cuidado, senão a gente vai sofrer depois, fazendo a família sofrer.”

Fonte: Agora SP

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