A gestão da Cemig em Uberlândia está sendo investigada pelos constantes apagões na cidade e os prejuízos causados à população. Há duas frentes de investigações: a do Ministério Público e a da Câmara Municipal de Uberlândia. O MP abriu uma Ação Civil Pública que cobra da gestão da Cemig responsabilidades, mais investimentos e o pagamento de uma multa de R$ 1,2 milhão pelos danos causados aos consumidores; e a Câmara de Uberlândia instaurou uma CPI no dia 19 de dezembro de 2023 para apurar os frequentes apagões na cidade e apontar as responsabilidades da gestão da empresa.
O Sindieletro apoia as investigações e municia tanto o MP quanto a Câmara de Uberlândia com informações e documentações sobre a precarização dos serviços da gestão Zema na Cemig.
A CPI na Câmara de Uberlândia já iniciou os trabalhos e intimou o coordenador da Regional Triângulo do Sindicato, William Franklin, a comparecer em audiência no próximo dia 30, às 13h30, para prestar depoimento na qualidade de testemunha sobre os fatos que estão sendo apurados: apagões frequentes, imensas dificuldades para o consumidor conseguir atendimento nos postos de atendimento da Cemig ou por meios virtuais e falta de investimentos na rede, entre outras questões.
Vale lembrar que nem só Uberlândia vem sofrendo com os apagões e dificuldades de atendimento. Há relatos de que Minas Gerais inteira tem vivenciado apagões e até riscos à população de acidentes nas redes por conta da precariedade da estrutura e dos serviços da Cemig. A cidade de Formiga é um dos inúmeros exemplos: recentemente, aconteceu uma pane na subestação móvel que deixou vários pontos da cidade sem luz. Não havia equipes para revezamento e os trabalhadores viraram a noite trabalhando para restabelecer a energia.
Em Araguari, vereadores se articulam para instalar uma CPI visando apurar os apagões frequentes da Cemig. Na ALMG, já ocorreram audiências públicas para tratar do péssimo atendimento da empresa.
Presidente da CPI aponta precarização e se diz contra a privatização
A vereadora Liza Prado é a presidente da CPI da Câmara de Uberlândia. Ela também preside a Comissão de Defesa do Consumidor da Casa Legislativa e, em entrevista ao Sindieletro, disse que as respostas da gestão da Cemig à Casa Legislativa e para o MP foram para “inglês ver”. Segundo a vereadora, cansados de esperar solução, os vereadores não tiveram outra alternativa senão instalar a Comissão Parlamentar de Inquérito.
O número de reclamações de deficiência dos serviços da Cemig na cidade aumentou 146% em 2023 somente no Procon e, de acordo com Liza Prado, na Câmara a quantidade de reclamações também aumentou significativamente, a maioria sobre os apagões, oscilação de energia, perda de produtos perecíveis, dificuldades de ressarcimento dos prejuízos, a falta de retorno dos atendimentos e até mesmo o acesso ao atendimento, visto que o telefone da Cemig na cidade não atende. Produtores rurais e empresários do setor de alimentação precisaram, por várias vezes, jogar fora leite estragado e outros produtos alimentícios. Empresas tiveram que parar a produção. Uberlândia chegou a ficar até seis dias sem energia, atingindo, inclusive, hospitais.
“No nosso entendimento há sucateamento dos serviços e da estrutura para tentarem privatizar a Cemig. Querem entregar o patrimônio de Minas ao estrangeiro. Temos na CPI cinco membros com pensamentos diversos, mas isso é superado com o entendimento unificado de que a Cemig deixa a desejar com seus serviços, colocando em risco a vida da população e de seus trabalhadores. A energia é serviço essencial e deve ser público”, destacou.
Liza Prado lembrou que Uberlândia é a cidade com a segunda economia do estado, mas a gestão da Cemig restringe investimentos até em poda de árvores. Ela ressaltou que a parceria com o MP e o Sindieletro é fundamental para a CPI. “O Sindieletro colabora muito com a gente, e o nosso primeiro passo foi chamar o Sindicato para prestar esclarecimentos. A vivência dos funcionários e dos dirigentes sindicais é importante para as nossas investigações. Estamos sabendo que a situação interna na empresa é de precariedade, estão morrendo trabalhadores da Cemig por acidente de trabalho e que o Sindieletro busca negociar a preservação da vida dos trabalhadores.”, afirmou.
A vereadora disse ser contra a privatização da Cemig e criticou o governador Romeu Zema pela atitude de encaminhar à ALMG a PEC que propõe a retirada do referendo popular no caso das privatizações em Minas. “Absurda essa PEC. Na prática, estamos vendo no Brasil, hoje, que a privatização da energia não funciona. Temos o exemplo de São Paulo onde houve apagão por dias, e os apagões continuam. Quem compra reduz despesas com demissões e investimentos, quer só o lucro”, afirmou.
Para o Sindieletro, apagões são resultados do modelo de gestão da Cemig
A gestão atual, desde o primeiro mandato de Zema, vem precarizando as estruturas de treinamento, não investe o suficiente em manutenção e atua com escassez de mão de obra. As quedas de energia acontecem mesmo sem vendavais severos. Aumentaram as demandas, mas os equipamentos continuam sobrecarregados. A gestão Zema na Cemig fechou agências de atendimento e localidades de trabalho, priorizando os canais digitais, que são poucos efetivos. A gestão sabe que o consumidor vai se sentir impotente e revoltado. Cria essa situação para mudar a opinião pública sobre a privatização.