Felipe D'Ávila (Novo) citou três vezes Romeu Zema (Novo), durante o debate entre os presidenciáveis, transmitido pela Band no último domingo (28). Para ele, a gestão do candidato à reeleição ao governo de Minas serve de “exemplo” da política do partido.
Entre os temas discutidos pelos candidatos, ganhou centralidade a questão ambiental. Questionado por Lula (PT) sobre quais medidas que implementaria para que o Brasil volte a ser referência em defesa do meio ambiente, D'Ávila afirmou que o tema “precisa ser tratado com seriedade" e que será resolvido com “mais mercado”. O candidato ainda argumentou que o desmatamento gera prejuízo às atividades econômicas desenvolvidas pelo país.
Para ambientalistas e movimentos populares de Minas Gerais, na verdade, o exemplo do estado é marcado pela falta de cuidado com os territórios, a natureza e a biodiversidade. Além disso, avaliam que a gestão de Zema comprova que tratar a questão ambiental como assunto de interesse do setor privado é um equívoco.
“Essa ideia do partido Novo de que o mercado vai resolver a questão ambiental é totalmente mentirosa. Nós temos em Minas os dois maiores crimes socioambientais do Brasil, que comprovam que a lógica privada mata os seres humanos e destrói o meio ambiente”, afirma Joceli Andrioli, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Além da perda de 272 vidas, o rompimento da barragem da Vale S/A em Brumadinho contaminou o Rio Paraopeba com 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos da mina Córrego do Feijão. Em 2020, um estudo realizado pela SOS Mata Atlântica identificou que a presença de cobre no rio era 44 vezes maior que o permitido.
Em janeiro deste ano, mais de 400 municípios mineiros decretaram situação de emergência devido às fortes chuvas. Para os moradores da região da bacia do Paraopeba, a situação foi ainda mais alarmante. Além de ficarem desalojados, perderem móveis e comidas, os atingidos viram a água misturada com lama tóxica chegar novamente às suas casas.
“Os impactos são sentidos até hoje. As enchentes levaram rejeito contaminado para tudo quanto é lugar. Isso acontece porque a lógica privada tomou conta. Enquanto isso, o governo Zema ao invés de punir as empresas, facilita a vida delas por meio de acordos”, completa Joceli.
Para as mineradoras, tudo
Apenas em novembro do ano passado o governador de Minas assinou cinco acordos com mineradoras para ampliar a extração no estado.
Criticado pelos movimentos por ser “subserviente às empresas”, no primeiro semestre deste ano, o governo Zema tentou permitir a mineração na Serra do Curral.
Conhecida como cartão postal da capital mineira, a serra é tombada em âmbito municipal e federal. Ainda assim, no dia 30 de abril, o Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) concedeu licença de exploração do território à Taquaril Mineração S/A (Tamisa).
Na avaliação da ambientalista Adriana Souza, com medo da repercussão negativa na disputa eleitoral, Zema criou estratégias para se desvincular das tentativas de ampliação da mineração na Serra do Curral.
“Ele adiou a reunião de tombamento estadual por meses. Depois, marcou uma reunião para tombamento sem os requisitos jurídicos necessários. A atuação do governo é criminosa, vergonhosa e aponta diversas ilegalidades. Vendo o impacto negativo na sua campanha, ele tenta se desvencilhar da questão”, argumenta.
Além da Serra do Curral, pelo menos outras oito serras correm risco em Minas Gerais: a Serra da Piedade, a Serra da Gandarela, a Serra do Caraça, a Serra da Moeda, a Serra do Rola Moça, a Serra do Brigadeiro, a Serra do Caparaó e a Serra do Espinhaço.
Recursos hídricos ameaçados
Minas Gerais é um dos estados com maior riqueza hídrica do país. Ainda assim, populações de grandes e médias cidades convivem com o receio da falta de água, devido à construção de grandes empreendimentos.
Em Contagem, a represa de Vargem das Flores é um dos principais reservatórios da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Mesmo assim, o Rodoanel Metropolitano, proposto pelo governo Zema, tem um traçado que atinge a região e pode impactar o abastecimento hídrico dos municípios.
Para a construção do megaempreendimento, o governo pretende usar aproximadamente R$ 3 bilhões do acordo assinado com a Vale, que deveria ser empregado na reparação dos impactos do rompimento da barragem em Brumadinho.
“Nós chamamos a obra de ‘Rodominério’ porque ela irá causar uma devastação imensa em seus 100 quilômetros de via. É revoltante que o dinheiro fruto de um crime ambiental seja utilizado para causar outro crime ambiental na RMBH e ainda beneficiar a mineradora, já que o traçado proposto por Zema vai passar por ela e facilitar o escoamento do minério”, enfatiza Adriana, que também é moradora de Contagem e membro do Movimento SOS Vargem das Flores.
Legado
Para Adriana, o aumento de licenças às mineradoras, somado à maior permissão do uso de agrotóxicos, à privatização de mais de 21 parques e reservas florestais, à terceirização da segurança das barragens, à não criação de unidades de conservação e ao megaprojeto do Rodoanel Metropolitano, conferem ao governo Zema um legado negativo no que tange à questão ambiental.
“O legado de Zema para o meio ambiente é um legado de destruição, devastação e morte. Por isso, Zema vai ficar conhecido como o exterminador do futuro do povo mineiro”, conclui.
Fonte: Brasil de Fato MG, por Ana Carolina Vasconcelos