“Todo dia que você liga para pedir, é um preço diferente”. É assim que Marlene Moreira Santos, de 49 anos, descreve a rotina de busca pelo acesso a algo essencial para a população: o gás de cozinha.
Para a moradora de Ouro Branco, na região Central de Minas Gerais, o fato de os valores mudarem não é o problema. O que tem dado dor de cabeça em Marlene, e em boa parte da população mineira, é que os preços só aumentam.
Um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstrou que, de abril de 2021 a abril deste ano, o preço do botijão de gás aumentou mais de 32% no Brasil. O reflexo desse dado os trabalhadores sentem no bolso. Uma pesquisa de preços, realizada em março deste ano pelo Mercado Mineiro, demonstrou que moradores da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) podem pagar mais de R$130,00 por um botijão de gás de 13 quilos.
Além de educadora infantil, Marlene também vendia salgados. Com o aumento expressivo do preço do gás de cozinha, ela precisou abrir mão da atividade que permitia complementar sua renda. “Impactou diretamente na minha vida. Usava muito o forno e o fogão. É muito triste ter que parar de fazer algo que a gente gosta, e que complementa a nossa renda, por causa do aumento do preço das coisas, principalmente do gás”, lamenta.
Outro impacto direto desse cenário é a menor garantia ao acesso à alimentação, direito básico garantido à população pela Constituição Federal. Dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) demonstram que no ano de 2022, mais da metade da população brasileira vive com algum tipo de insegurança alimentar.
“A gente vê no Brasil a volta da fome, as pessoas sem condições de comprar alimentos ou sem condições de cozinhá-los. As famílias têm tentado reduzir o consumo do gás de cozinha, mas isso não é possível sempre. O gás e os alimentos são gastos permanentes”, explica Iasmim Chéquer Cavalcanti, da coordenação do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD).
Iasmin ressalta que o aumento dos preços dos alimentos e do gás, aliado à desvalorização do salário mínimo, tem levado as famílias a escolherem entre duas opções preocupantes: fazer dívidas ou cozinhar à lenha.
“As pessoas têm tentado resolver esse problema parcelando o gás, usando cartões de crédito. Isso gera um endividamento geral. Isso também se acirra quando há pessoas que retornam ao velho fogão à lenha, que pode ter impacto negativo na saúde e no meio ambiente, porque a fumaça dentro de casa é prejudicial”, complementa
Motivos da alta nos preços do gás de cozinha
Na avaliação do coordenador geral do Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais (Sindipetro), Alexandre Finamori, os altos preços do gás e dos combustíveis em geral são consequências diretas das opções políticas tomadas pelo governo federal na condução da Petrobrás.
“A gestão Bolsonaro na Petrobras opta por vender os produtos a preço de paridade de importação. Ou seja, nós vendemos o gás de cozinha, a gasolina e o diesel como se não tivessem petróleo e refinarias no Brasil. Isso leva a um lucro máximo para os acionistas, que viram as costas para a população brasileira”, explica Alexandre.
Para mudar essa realidade, Alexandre afirma que é possível uma gestão da empresa que garanta ao mesmo tempo a sustentabilidade, o lucro para os acionistas e a função social da Petrobrás. Para isso, segundo o petroleiro, seria necessário reposicionar a estatal para que ela volte a ser uma empresa com centralidade nos interesses da população e na garantia da soberania energética do Brasil.
“Fizemos isso no passado e voltaremos a fazer. Para isso precisamos trocar o presidente da Petrobrás e o presidente da República”, conclui.
Fonte: Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG, por Ana Carolina Vasconcelos