A eletricitária Patricia Guimarães, técnica de comercialização do mercado incentivado, lotada no CRIU/UBERLÂNDIA, considera-se uma trabalhadora privilegiada no universo do mercado de trabalho, da Cemig e da família. Com 44 anos e 26 de Cemig,
ela lembra que conquistou o emprego na estatal por concurso público, em igualdade de acesso com os candidatos homens. Esse
é um ponto positivo.
Outra vantagem é que, mesmo com alguns tropeços na valorização dos empregados e empregadas, a Cemig possui plano de carreira que abre portas de oportunidade para homens e mulheres. E os salários são definidos por cargos. Porém, há desvantagem na prática, admite Patricia, pois a igualdade de oportunidades para trabalhadoras e trabalhadores ainda está longe de ser a situação ideal, talvez até por se tratar de uma empresa majoritariamente formada por quadro de pessoal da ala masculina.
Segundo a eletricitária, para as mulheres o crescimento na carreira é mais lento. No seu caso, as oportunidades se mostraram
mais reduzidas também pela opção de permanecer no interior, considerando que na Grande BH há melhores chances para o crescimento nas carreiras. “Toda decisão tem suas consequências, mas quis ficar no interior, não me arrependo e sou feliz assim. Feliz com a minha família e feliz no ambiente de trabalho”, enfatiza.
Na família, contudo, as responsabilidades e “oportunidades” são plenamente equalizadas. Casada e com uma filha de 8 anos, ela e o marido dividem as tarefas domésticas e a educação da menina em patamar de igualdade. O casal entende que não é obrigação nenhuma para o homem assumir as tarefas em casa, tampouco um sacrifício; é compartilhamento de vida, um companheirismo que deveria ser a regra nos casamentos. “Infelizmente, ainda é exceção. Nós colocamos essa igualdade em
prática. Ambos viajamos muito a serviço e é muito tranquilizador, para mim e para ele, saber que tudo estará sendo cuidado em
casa, com a ausência dele ou com a minha ausência”, destaca.
Visibilidade e reflexão
Patricia avalia que o Dia Internacional da Mulher é um importante espaço para dar visibilidade à luta das mulheres e promover a reflexão sobre a realidade de gênero, no Brasil e no mundo. “É fundamental debater, não só no Dia da Mulher, mas sempre, a realidade nas relações de gênero, mostrar o quanto é pesada a vida da mulher no mercado de trabalho, a conjuntura de violência, o preconceito, a discriminação e os assédios contra mulheres”, justifica.
Mas a eletricitária acredita que é preciso muito mais que o debate para a efetiva mudança de mentalidades rumo a uma sociedade sem machismo e preconceitos. “Nossa melhor contribuição para um mundo melhor, igualitário, está na educação dos filhos e filhas, no ensino do respeito às diferenças e à diversidade; na orientação para as crianças de que não importam classe social, raça, gênero, se a pessoa é pobre, se é LGBT ou índia, todo mundo deve ser respeitado”, ressalta.
Patricia observa que, “aliás”, o preconceito contra a pobreza ganhou destaque “no país de Bolsonaro”, tendo evoluído para o ódio. “No contexto do preconceito contra os pobres, quem se torna vítima em potencial? Os negros! E entre os negros, quem
está no topo da pirâmide dos preconceitos? A mulher negra pobre e gay”, avalia.
“O armário” do governo Bolsonaro
Patricia afirma que o presidente Bolsonaro criou condições para que o preconceito e o ódio contra as minorias “saíssem em massa do armário”. Ou seja, muitos brasileiros foram lá no “armário” retirá-los com o incentivo dos discursos do presidente.
Mas, apesar de toda essa situação de horror, Patricia vê um aspecto positivo: o conhecimento da verdade. “Não se pode viver uma evolução verdadeira e coletiva do povo brasileiro, desconhecendo sua verdadeira face. Toda a insensatez dos discursos de ódio que podemos observar a todo momento no país, das mentiras e ataques contra as minorias está exposta. Muitos brasileiros
já enxergaram e, cedo ou tarde, a maioria do povo verá. E quando isso acontecer, as condições para a reflexão, a discussão e o diálogo para acabar com essa realidade tão perversa serão excelentes”, aposta.
Também apostamos, Patricia.
Por Mariângela Castro, jornalista