Água



Água

No meio da maior crise hídrica da história, a sociedade cobra a revisão do modelo de desenvolvimento econômico do Estado e do país, considerando o uso gigantesco desse recurso natural pelo agronegócio e, principalmente, pelas mineradoras. No início deste mês uma audiência realizada na cidade de grão Mongol, no Norte de Minas, para o licenciamento do mineroduto da Sul Americana de Metais, que deve ser o campeão em uso de água no país, usando 14% da água outorgável da Usina de Irapé, esquentou o debate sobre a água.

Com o rio Jequitinhonha a míngua, o engenheiro ambiental e coordenador do Sindieletro na Regional Norte, Everaldo Rodrigues, diz que esse empreendimento que usará água potável para transportar minérios para exportação surge na contramão da realidade brasileira. “No semiárido, como é o caso do Norte de Minas, a situação da água sempre foi complicada. E agora, quando a crise de abastecimento é geral, ver a água potável que daria para abastecer uma cidade e meia como Montes Claros por ano ser jogada no bueiro para matar a sede das mineradoras é inaceitável”.

Custo ambiental

O engenheiro e especialista em alternativas energéticas Alexandre Heringer Lisboa Heringer destaca que a atividade mineradora é importante economicamente para Minas e tem lobbies poderosíssimos em sua defesa, mas alerta que é preciso avaliar o custo social e ambiental dessa atividade. Para ele os minerodutos trazem economia apenas para a mineradora, com um gasto gigantesco de recursos hídricos que pertencem a toda a sociedade.
Para Heringer, órgãos governamentais como o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) agem de forma irresponsável ao outorgar água a preços desprezíveis ou a custo zero para operar mineroduto. Em Minas, as atividades mineradoras “atravessam biomas riquíssimos em fauna e flora, provocando alto impacto ambiental sobre as reservas naturais” como é comprovado pela degradação da Serra do Curral e Itabira que “jamais será recuperada”.

Do ponto de vista econômico, Heringer e Everaldo Rodrigues também apontam desvantagens nos minerodutos que promovem a exportação de minério bruto com baixíssimo valor agregado. Eles defendem um novo modelo industrial que agregue valor em siderurgias e metalurgias dentro do país para fornecer produtos acabados, dispensando o transporte do pó de minério e “gerando mais renda e emprego aqui e valorizando nossos minérios com menor gasto hídrico”, explica Heringer. Diante da precariedade da malha rodoviária do país, enquanto não se associa à mineração ao beneficiamento industrial do minério, Everaldo considera boa alternativa a reativação do transporte férreo “aproveitando a rede ferroviária para substituir minerodutos e para baratear o transporte de outras mercadorias no território brasileiro”.

Considerando ainda fato de que as mineradoras não pagam royalties aos municípios que convivem com os efeitos negativos da mineração, Heringer sugere estudo aprofundado sobre o custo-benefício da exportação bruta de minério para o país e o Estado. Caso não seja vantajoso, o engenheiro recomenda a sobretaxa da atividade e “contrapartida ambiental, de modo a compensar seus malefícios”.

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