Agência fechada é culpa dos donos dos bancos
Ao boicotarem o diálogo e acreditarem que os trabalhadores bancários não seriam capazes de mobilizar as bases, os donos dos bancos conseguiram ampliar ainda mais a unidade. E, de quebra, ainda viram que a categoria está preparada para um diálogo nacional.
Essas foram as avaliações do presidente da Confederação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), Carlos Cordeiro, e da presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Juvandia Leite, sobre a greve que completa 21 dias nesta quarta-feira (9). “Achavam que não teríamos fôlego para aguentar uma paralisação tão longa, não só aguentamos como estamos fortalecendo a luta”, destacou Cordeiro.
A paralisação suspendeu as atividades em 11.748 agências, centros administrativos e call centers em todos os estados e no Distrito Federal. De acordo com a Contraf, o índice representa um crescimento de 91,1% em relação ao primeiro dia e é a maior greve dos últimos 20 anos.
“O resultado dessa greve é a retomada do diálogo, algo que é muito importante para os trabalhadores e para a sociedade. A nossa luta é por melhores salários, condições de trabalho e segurança para que possamos atender melhor a população. E, nesse processo de negociação, a solidariedade da CUT foi fundamental”, afirmou Juvandia.
Como resposta à pressão dos bancários e a intervenção da CUT, a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) finalmente resolveu agendar uma nova rodada de negociações para esta quinta-feira (10), às 10 horas.
Presidente da Central, Vagner Freitas, ressaltou a importância de frear a tentativa de os empresários emplacarem uma agenda de retirada de direitos e rebaixamento de salários.
“O Brasil só passou a distribuir renda porque elegemos um governo comprometido com os trabalhadores(as), o que também aumentou o poder de compra dos trabalhadores, resultado das lutas dos nossos sindicatos e confederações. A mobilização dos bancários estimula as demais categorias e, por isso, a necessidade de essa greve deixar bem claro que não vamos abrir mão de consolidar conquistas”, disse.
Trabalhadores não vão pagar a conta – De acordo com levantamento da empresa Economática, divulgado em maio deste ano, das cinco empresas que mais lucraram no país no primeiro trimestre, três são grandes bancos.
Juntos, Itaú, Bradesco e Banco do Brasil ganharam R$ 8,948 bilhões nos primeiros três meses deste ano, valores acima do que obtiveram no ano passado. Ainda assim, a última proposta que a Fenaban apresentou foi de 7,1% de reajuste, no dia 5 de setembro, índice que equivale a 0,97% de aumento real (acima da inflação). Em 2012 e 2011, os aumentos foram de 1,5% e 2%, respectivamente.
Para Carlos Cordeiro, o retrocesso na tendência de aumentos reais apresentados pelos donos dos bancos é uma forma pressionar o governo, além de compensar as perdas com a política de redução de juros praticada pelo governo da presidenta Dilma Rousseff até o primeiro semestre deste ano.
Donos de bancos prejudicam o Brasil – Às vésperas do Dia das Crianças, a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) avalia que o comércio pode sofrer perdas de 30% por conta da postura intransigente dos banqueiros, que ignoraram a reivindicação dos trabalhadores bancários.
Ainda de acordo com o Serasa Experian, a procura por crédito pelo consumidor também caiu: 9,8% em comparação à setembro.
Mais investimento – Adotar uma postura inversa e praticar a responsabilidade social que os bancos tanto vendem nas campanhas publicitárias seria fundamental para o país.
Segundo levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a soma de reajustes, participação nos lucros e resultados (PLR) e vales alimentação e refeição conquistados pelos bancários em 2011 e 2012, injetou na economia R$ 7,197 bilhões e R$ 7,619 bilhões, respectivamente.
“Isso representa melhora no consumo e é fundamental para fazer a roda da economia girar”, explicou Juvandia.
Ao contrário disso, a postura dos banqueiros foi de, novamente, utilizar o interdito proibitório – recurso jurídico para manter os trabalhadores em greve distantes do local de trabalho – e até mesmo disponibilizar helicópteros como forma de pressionar os bancários a furarem a greve e entrarem nas agências.
“Estamos denunciando essas práticas antissindicais à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e à OIT (Organização Internacional do Trabalho). Inclusive, o Santander estava demitindo trabalhadores durante a paralisação”, criticou Carlos Cordeiro.
Consciência nacional– O dirigente da Contraf ressalta que o caminho para enfrentar os ataques dos donos dos bancos é manter a unidade por meio da campanha nacional capaz de enfrentar um setor extremamente organizado e poderoso financeiramente.
“Ter uma mesma convenção para bancos públicos e privados, em todo território nacional, faz com que todos os trabalhadores da categoria tenham os mesmos direitos em todas as regiões do país.”
Para Carlos Cordeiro, a consciência da população sobre a necessidade de combater a ganância dos banqueiros por meio das paralisações cresceu após as manifestações de julho. E a expectativa é que a proposta da Fenaban, nesta quinta, represente maior respeito à sociedade.
“Esperamos que os bancos apresentem uma proposta para que possamos avançar. Caso contrário a greve continua”.