Mostrar um retrato revelador do Brasil a partir de 2016, ano em que o país experimentou a mais grave ruptura institucional de sua história desde a década de 1960. Este é o objetivo do livro “Guerrilha: o combate ao neoliberalismo e ao fascismo, em 6 anos de crônicas”, pela Editora Dialética (comprar aqui).
O autor, o advogado Normando Rodrigues, conta que a ideia de reunir as crônicas semanais em livro, físico e digital, “mira a eleição presidencial deste ano, com uma ingênua pretensão de ajudar a esclarecer a monstruosidade que é o fascismo”, conta.
“A ideologia do Lobisomem que ocupa o Palácio do Planalto não é apenas mais uma visão social de mundo, mas a sistematização da misoginia, das discriminações, da brutalidade no trato, da morte como legítimo instrumento político. O fascismo, a rigor, é inimigo da própria humanidade e precisa ser denunciado como tal”, relata o advogado.
“Com essa meta, resolvi investir em reunir as cerca de 200 crônicas publicadas desde janeiro de 2016 até dezembro de 2021. Esse recorte temporal foi definido para demonstrar a ruptura institucional significada pelo Golpe de Estado de 2016 e a consequente ascensão do fascismo, cujos desmandos e autoritarismos são retratados nos últimos três anos da janela temporal”, explica.
Normando resume sua meta: “Se o livro resultar em um único voto a mais, contra o fascismo, já terá cumprido seu objetivo”, diz ele, que é bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e assessor da Federação Única dos Petroleiros (FUP).
Os temas recorrentes, segundo o autor, são “a democracia, a violência política e econômica e a podridão da suposta elite que se aliou ao fascismo em 2018”.
Mas nem sempre estes temas eram os dominantes nas crônicas de Normando. “Até 2016, tratávamos, também, de ideologia e política, porém, de forma reflexa, ao abordar temas jurídicos de interesse dos trabalhadores petroleiros”.
No entanto, com o golpe era evidente, na avaliação do advogado, que a conjuntura política contaminaria as principais demandas judicializadas pelos trabalhadores e determinaria a “virada de mesa”, transformando ações vitoriosas em grandes derrotas.
“Razões ideológicas passaram a direcionar o judiciário contra os trabalhadores, em temas em que antes os favoreciam”
“A partir do golpe, por conta da percepção de que o ‘jogo viraria’, deixou de fazer sentido tratar dos resultados - o destino de ações judiciais. Daí passamos a tratar das razões ideológicas que passaram a direcionar o judiciário contra os trabalhadores, nos mesmos temas em que antes os favoreciam. Tratar da ‘raiz’ do problema, que faz com que, por exemplo, juízes do trabalho digam que o trabalhador abstrato não precisa de proteção e pode negociar individualmente com o patrão”, acrescenta.
“Em razão dos inúmeros retrocessos, nossa atenção se voltou dos efeitos sentidos pelos trabalhadores em suas vidas, para as causas, no esforço de tornar evidente a relação de causa e efeito entre a política e o mandato desta ou daquela força, de um lado, e o prato de comida de quem vende sua força de trabalho para viver, de outro”, aponta o autor.
Normando ainda faz um alerta: “A ideia é tentar conscientizar o trabalhador para as consequências de seu voto, que atingem seus filhos, seu prato de comida e até as ações judiciais das quais ele esperava receber algum dinheiro”, completa.
Boa parte dos textos vem da publicação semanal “Nascente”, do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF). Em 2021, a Fórum passou a publicar as crônicas do advogado.
Fonte: Revista Fórum, por Lucas Vasques