Abriram o alçapão do fundo do poço: Zema e sua gestão na Cemig



Abriram o alçapão do fundo do poço: Zema e sua gestão na Cemig

Nesta matéria daremos continuidade à necessária avaliação crítica do governo Zema, porém, com elementos do acúmulo do debate feito com a categoria conectados a uma perspectiva filosófica apresentada pela importante intelectual brasileira Marilena Chauí no documentário “A invenção da política”, disponível no Youtube.

O assunto em questão é fruto de um dos vários diálogos realizados entre sindicalistas e trabalhadores e trabalhadoras da Cemig durante as panfletagens do jornal do nosso Sindicato. Após uma conversa sobre a gestão Zema no estado e os impactos na relação trabalhista na administração pública direta e indireta, um companheiro lotado no edifício-sede da empresa questionou: “Chegamos ao fundo do poço?” Não! Eles (Zema e seus indicados na Cemig, com a liderança de Reynaldo Passanezi) abriram o alçapão do fundo do poço.

O fundo do poço representa muito bem as avaliações e denúncias realizadas nas gestões que antecederam o desgoverno Zema, em diferentes níveis, com forte influência dos especuladores (acionistas) no Conselho de Administração da companhia. Afinal, não podemos imaginar que estivemos em momento de ascensão com tantas mortes, acidentes, adoecimentos, graves conflitos trabalhistas e reestruturações na organização do trabalho que precarizaram, em algum grau, processos, condições de vida no trabalho e piora na prestação de serviço.

Zema e sua turma na Cemig abrem o alçapão do fundo do poço quando corrompem a política, no sentido literal da palavra explicado por Chauí, e agem de forma imperativa, buscando atingir seus desejos privados em detrimento dos aspectos públicos no ambiente institucional e social. Temos como exemplo a CPI da Cemig e seu arquivamento no Ministério Público sob suspeita de forte interferência do governador, a implementação do modelo de gestão privada na estatal, o projeto privatista, a PEC 24 – que prevê a retirada do Referendo da Constituição de MG – e a proposta do Regime de Recuperação Fiscal, derrotada pela luta popular e sindical.

De acordo com Marilena Chauí, o exercício do poder pelos governos grego e romano, antes da invenção da política, acontecia por meio dos grandes impérios. Sua marca era a identidade entre poder e a figura do governante; este encarnava a autoridade e o poder. Era ele o autor da Lei, da recompensa e da Justiça, ou seja, a vontade individual do governante era a única lei existente.

Os gregos e romanos inventaram a política! A ideia de um espaço onde o poder existe através das leis que não se identificam com as vontades dos governantes, mas imprimem uma vontade coletiva materializada nas assembleias públicas, com discussão, deliberação e voto. O poder é, então, submetido ao conjunto de instituições e práticas que fizeram dele algo público, que interessa à totalidade dos cidadãos, superando a autoridade individual antes imposta pelas virtudes dos governantes.

Assim, os gregos e romanos puderam distinguir com muita clareza a autoridade pública da autoridade privada – a autoridade privada se dá pelo despotismo, ou seja, pelo poder isolado, arbitrário e absoluto. Zema é um governante ultraliberal déspota, exerce sua autoridade de forma absoluta, arbitrária e opressora. O governo com tal perfil representa um retrocesso na construção histórica da política que avançou na humanização e na organização das relações sociais e institucionais.

O discurso “apolítico” do governador representa o rompimento com a política apresentada por Marilena Chauí, construindo uma cultura de gestão privada no estado com certo nível de violência, característico desse modelo de autoridade. É imprescindível intensificar a luta política contra esse e qualquer outro governo que aspire o totalitarismo como fundamento de gestão, para evitar que a abertura do alçapão do fundo do poço não permita o aprofundamento da cultura da autoridade privada no estado e a implementação de um estado ditatorial e violento.


Por Jefferson Silva, secretário-geral do Sindieletro/MG

 

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