O apagão que atingiu 25 estados brasileiros e o Distrito Federal no último dia 15 de agosto, deixando cerca de 28 milhões de pessoas no escuro por horas, teve aviso prévio. As entidades representativas dos eletricitários da Eletrobras alertaram, antes e depois da privatização da empresa, que o país se tornou exposto à insegurança energética devido à nova gestão privada, que só administra para maximizar os lucros aos acionistas, demite em massa e precariza ao extremo com a venda de ativos, falta de investimentos e mais terceirização.
As primeiras investigações apontaram que o apagão se iniciou na Linha de Transmissão Quixadá - Fortaleza II, da Eletrobras. O Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE), que reúne entidades representativas dos trabalhadores e das trabalhadoras do setor elétrico brasileiro, destaca: “Poderemos tirar lições como quando do apagão que desligou por 22 dias o estado do Amapá por economia de palito no transformador de uma subestação de empresa privada”, publicaram, fazendo referência à manutenção dos transformadores reservas.
No entanto, pela dimensão da Eletrobras, que é a maior empresa de geração de energia elétrica do Brasil e a maior companhia do setor elétrico da América Latina, o sistema elétrico brasileiro está mais fragilizado e exposto a catástrofes bem maiores do que a que ocorreu no Amapá, avisa o CNE.
Nailor Gato, diretor do CNE, aponta que os responsáveis pelo apagão são os gestores, são os que realizaram a dispensa de milhares de trabalhadores experientes sem a devida reposição do quadro técnico qualificado. São os que impõem problemas com a falta de equipamentos e não realizam os investimentos necessários à geração, distribuição e transmissão. “Em síntese, a privatização da Eletrobras e as demissões apagaram o Brasil”, disse.
Em nota, o Coletivo detalha que vem alertando insistentemente que a exposição a “catástrofes” é óbvia quando a mentalidade dos gestores (da Eletrobras e de outras empresas do setor) é de lucro maximizado e de privilégio para a distribuição de dividendos. É a realidade da gestão da Eletrobras que, hoje, precariza as condições de trabalho e substitui trabalhadores que carregam consigo a memória técnica do setor elétrico por uma força de trabalho sem acúmulo de aprendizado técnico. Esse cenário, diz o CNE, gera outro efeito cruel para os eletricitários que permanecem na empresa: a sobrecarga mental e o adoecimento.
O Coletivo cobra que o STF se pronuncie rápido sobre a ADI 7385, que trata sobre o poder de voto da União na Eletrobras, para que o governo possa se manifestar e atuar na gestão da empresa em que mantém quase 46% das ações. “É inadmissível que a sociedade brasileira fique à mercê do mercado financeiro enquanto a segurança nacional fica em segundo plano”, lembra o CNE.
Já a Associação de Empregados da Eletrobras denuncia a direção da empresa por desmantelar a companhia em nível de grande irresponsabilidade. A crítica maior se refere às demissões em massa. A Associação revela que “enquanto demitia, a Eletrobras gastou exorbitantes R$ 47 milhões com campanhas publicitárias”.
O presidente da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge), Roberto Freire, destacou que o apagão foi uma "tragédia anunciada". Ele lembra que todas as entidades que representam os eletricitários da Eletrobras defendem a reestatização urgente da empresa. “Temos exemplos internacionais de empresas do setor elétrico que foram privatizadas e, depois, precisaram ser reestatizadas devido à extrema precarização, apagões, serviços de péssimas qualidade e tarifas altíssimas. Foi o caso EDF, na França”, ressalta.
O governo Lula determinou que a Polícia Federal entre nas investigações do apagão. O Coletivo Nacional dos Eletricitários diz que, infelizmente, a identificação das causas do apagão poderá demorar, porque falta pessoal especializado para as investigações no âmbito da Eletrobras devido às demissões em massa e a consequente desconfiguração de equipes inteiras.
Vale lembrar: o Grupo 3G é o gestor da Eletrobras privatizada, e é o mesmo grupo de empresários que cometeram fraude de R$40 bilhões nas Lojas Americanas.