Confira o artigo, abaixo, numa análise profunda e crítica da assessora de Saúde e Segurança do Sindieletro sobre o home office.
Por Julie Amaral – Psicóloga Social e Mestra em Saúde Coletiva
Chegando ao final do ano, observamos que, obviamente, o assunto mais falado e que nos trouxe mais preocupação em 2020 foi a pandemia do novo Coronavírus. Durante este ano, forças tarefa foram mobilizadas em todo o planeta em uma corrida científica para estudar, compreender o comportamento do vírus, do seu potencial infeccioso, possibilidades de tratamento e prevenção.
Até então, o que conseguimos apreender é que a prevenção continua sendo a melhor opção. Entende-se como prevenção a redução dos riscos e da exposição das pessoas, pois uma vez que ocorre a infecção, ainda não temos no país tratamentos eficazes comprovados cientificamente. O afastamento/distanciamento entre as pessoas ainda é a melhor saída!
Logo no início do ano, quando o país deflagrou a chegada da pandemia no Brasil, tivemos uma corrida pela adaptação dos contextos de trabalho à nova realidade. Foi necessário isolar as pessoas, diminuir os contatos... essas necessidades permanecem até então.
A doença avançou, chegamos na casa das centenas de mortes diárias, famílias enterravam (e ainda enterram) seus entes queridos sem direito a uma despedida digna. Pessoas sofriam e sofrem sozinhas nos seus leitos de hospital. Profissionais de saúde faziam e fazem apelos desesperados. Mas, o que aconteceu conosco? Aprendemos a lidar com o risco? Aprendemos a lidar com o medo diário? Nos acostumamos com a centenas de vidas perdidas todos os dias? Infelizmente, parece que sim!
A flexibilização trouxe e continua trazendo a “falsa ideia” de que a vida estava voltando ao normal, de que a pandemia estava caminhando naturalmente para seu fim. Agravado pelo fato de que, desde o início, tivemos uma onda governamental de negação e desprezo com a doença.
Os locais de trabalho permanecem com várias medidas de proteção, que são de suma importância, mas... algumas recomendações irreais de distanciamento social dentro de transportes públicos, por exemplo, ou mesmo dentro das próprias empresas, onde as atividades implicam em aproximação entre os trabalhadores. E assim segue a classe trabalhadora brasileira, em ônibus lotados, sem condições dignas de trabalho, sem condições dignas de proteção contra o vírus e em uma crise que cresce sem precedentes, com a diminuição do seu poder de consumo e acesso, consumidos pela falsa dicotomia entre saúde e economia.
Mas, contraditoriamente, a vida parece estar, finalmente, voltando ao normal. E o relaxamento das medidas tornou-se novo modus operandi das empresas. Resultado? Nossos números começam a aumentar novamente, de forma assustadora. No entanto, isso não parece mais deixar ninguém perplexo.
Neste momento dramático é preciso alertar cada trabalhador e cada trabalhadora que, além da responsabilidade individual, a COVID-19 é uma questão de saúde pública e as empresas deveriam cumprir seu papel social e mitigar os riscos, que não refletem somente nos seus empregados, mas em toda sociedade. Essa doença se propaga em cadeia e isso não mudou!
Em meados de novembro, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva, em carta aberta às autoridades do País, pede um novo acirramento de medidas. Mas qual seria o preço político para empresas com a retomada de medidas mais severas? Quem está disposto a pagar?
A população brasileira segue. Segue adoecendo, morrendo e, até, escondendo a doença. A ameaça do desemprego, que bate recordes no país, é companheira diária. O ciclo continua. Mas a pandemia não acabou.
Na Cemig, mais um anúncio de volta das atividades presenciais, tirando mais pessoas do home office, o que amedronta a categoria, que já viu companheiros de trabalho tendo a vida ceifada pela COVID-19.
O Sindieletro questiona veementemente a volta precipitada da empresa com o trabalho presencial. Mais uma vez, afirmamos: é momento de endurecer os cuidados e não flexibilizar ou colocar mais pessoas nas ruas, em circulação, isso só aumenta ainda mais as probabilidades e riscos para as pessoas e para a sociedade.
A pandemia de COVID-19 não acabou!
Sigamos atentos(as) e em luta para o fortalecimento da ciência, do SUS e dos direitos dos(as) trabalhadores(as)!