Patrimônio do povo mineiro, a Cemig está mais uma vez sob o fogo cerrado da ganância privatista dos tucanos, caso seja mantido o leilão das hidrelétricas de São Simão, Jaguara e Miranda, no Triângulo Mineiro. Embora o contrato entre a União e o Estado preveja a renovação automática das concessões por mais 20 anos e a Cemig tenha solicitado à presidente do STF, Cármen Lúcia, a suspensão do leilão, o governo Temer, cujo sócio majoritário e principal fiador é o PSDB de Aécio Neves, insiste na venda dessas usinas, que respondem por cerca de 50% da energia gerada pela empresa mineira.
Com a privatização maldisfarçada e ilegal, eles esperam arrecadar R$ 11 bilhões para torrar no ralo do déficit fiscal, e quem pagará a conta é o povo mineiro, que, além da perda de um enorme patrimônio, arcará com tarifas de energia até 100% mais caras.
Mas, como a história nos mostra, essa verdadeira obsessão tucana pela privatização da Cemig não é de agora. Vem dos tempos do presidente Fernando Henrique Cardoso, no final do século passado, quando o governo Eduardo Azeredo tentou entregar seu controle a empresas estrangeiras, as norte-americanas Southern Eletric, sediada na Geórgia, e a AES, da Virgínia. A meu pedido, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais chegou a instalar, na época, uma CPI, que desvendou o nebuloso negócio – uma verdadeira trama de filmes de espionagem, envolvendo milhões de dólares, os tucanos, a Southern, a AES, o Banco Opportunity e a Cayman Energy Internacional, esta última sediada no famoso paraíso fiscal das ilhas Cayman, no Caribe. Derrotado pelos mineiros nas urnas em 1998, Azeredo deixou o governo, e o sucessor, o governador Itamar Franco, acabou, felizmente, retomando o controle da Cemig para o Estado.
Há cinco anos, no governo do hoje senador pelo PSDB Antonio Anastasia, ocorreria um segundo tempo da tentativa dos tucanos de privatizar a Cemig, quando a presidente Dilma Rousseff instituiu o novo marco regulatório do setor elétrico. Como os colegas governadores tucanos de São Paulo e do Paraná, Anastasia não só contestou judicialmente, como não aderiu ao novo marco regulatório do setor em 2012, o que impossibilitou que fossem renovadas naquela época as concessões de usinas da empresa, entre as quais as três que o governo Temer quer agora vender, mesmo “sub judice”.
Portanto, estamos diante de um terceiro tempo da obsessão tucana pela privatização da Cemig e que trará não apenas enormes prejuízos para a economia do Estado, mas impactará as tarifas de energia e ameaçará a própria viabilidade da empresa, caso o leilão das usinas seja concretizado, como bem alertou seu presidente, Bernardo Alvarenga. Por isso, vem em muito boa hora a criação, na Assembleia, da Frente Mineira em Defesa da Cemig, reunindo empresários, deputados, movimentos sindicais, sociais e populares e o Ministério Público. Afinal, a Cemig é de Minas, e o povo mineiro lutará por ela.
Durval Ângelo, no jornal O Tempo