Por Danilo Nunes(*)
Quando falamos de América Latina nos deparamos com um sentimento integracionista de irmandade, onde toda e qualquer fronteira, muro ou limite torna-se inexistente. O que se destaca é o espírito de liberdade e união que se faz presente em discursos, livros, obras de arte e a música.
A música é uma expressão artística, onde cria-se a partir de uma combinação de sons organizados em regras, notas, tempo e timbres, com o intuito de comunicar uma mensagem, um discurso, despertando em quem a ouve sentimentos e sensações. Seja popular, erudita, instrumental ou cantada, a música é capaz de atravessar muros e fronteiras, criando uma grande teia sonora, ligando lugares e culturas das mais diversas.
Amor, raiva, paz, cotidiano. Todas as experiências humanas ganham significados através de símbolos sonoros e poéticos. A música é capaz de transformar ambientes e servir como intervenção social, de resistência e protesto, além de tantas outras funções.
Toda música faz sua intervenção, pois intervém em nossas vidas e momentos. Mas também é engajada, tendo em vista que, de certa forma, está engajada com aquilo e/ou com o tema que se propõe. E a música é resistência natural, pois resiste e (re)existe em nossas vidas desde sempre. Com todas as suas funções naturais, ela também pode protestar contra ou a favor de algo. E assim, podemos nesse momento chamá-la de música de protesto.
Acontece que, com o passar do tempo, a música de protesto ganhou força na humanidade, passando de algumas composições espalhadas pelo mundo, bradando e cantando contra contra guerras, intolerâncias e desigualdades sociais e, ganhou a força popular dos movimentos. Assim foi e ainda é em nossa América Latina.
Movimentos como a Nueva Canción no Chile, a Nueva Trova Cubana e o Nuevo Cancionero (Argentina) fizeram com que, na América Latina, se iniciasse, de forma organizada, o movimento da música de protesto. Este, por sua vez, inspirado na Revolução Cubana de 1959, contra o imperialismo norte-americano que buscava cada vez mais explorar as riquezas da América Latina, patrocinando golpes militares seguidos de ditaduras cruéis.
Trarei para este espaço, semanalmente, um panorama sobre questões importantes que alimentaram (e continuam a alimentar) essa criação e movimentos insurgentes que têm a música como munição, e o canto, ou os instrumentos musicais, como armas de luta contra a desigualdade e o fascismo, que ainda vive e, de tempos em tempos, coloca a cara na janela para destilar seus ódios e venenos. A música é resistência, é toque de despertar.
* Danilo Nunes é músico, ator, historiador e pesquisador de cultura popular brasileira e latino-americana. Apresentador do programa Sacada Cultural, às sextas às 12h na TVT, e aos sábados às 22h, na Rádio Brasil Atual.
Artigo publicado originalmente na Rede Brasil Atual