A economia da desigualdade na Cemig



A economia da desigualdade na Cemig

“(...) a fixação das remunerações mais elevadas tem pouco que ver com uma lógica de produtividade”.

“(...) os salários mais altos são também fixados pelas próprias hierarquias superiores ou por comitês de remuneração, cujos membros normalmente possuem rendas comparáveis”.

Thomas Pikety, O capital no século XXI, págs 323-6.

No último dia 30 de maio, junto com o pagamento do mês, os eletricitários (as) receberam a PLR referente ao ano exercício 2016. Como todos certamente notaram, houve uma queda vertiginosa, tanto no montante quanto no valor distribuído, e a categoria se pergunta sobre os motivos do arrocho. Crise? Adequação ao marco regulatório?

Com relação à PLR, os próprios eletricitários têm consciência de que a redução do lucro da empresa impactou no montante final. Entendemos, mas não aceitamos. De fato, a categoria tem ciência de que a Cemig encontra-se em uma situação delicada, mas não podemos deixar de questionar quem são os responsáveis por isso. Além disso, os trabalhadores foram penalizados com a redução do percentual da participação sobre o lucro.

Afinal, se a empresa está endividada, quem foram os responsáveis pela captação de dinheiro no mercado? Se os ativos da Cemig estão deficitários, quem foram os responsáveis pela política de investimentos? Se a terceirização gera prejuízos enormes, do ponto de vista financeiro e humano, quem são os responsáveis pela gestão de pessoal?

Isso mesmo: os responsáveis são a alta direção e o Conselho de Administração da estatal. O grupo de gestores que define as políticas e, de tempos em tempos, as reavaliam e arbitram sobre quem deve ser responsabilizado ou penalizado em eventual crise e quem deve ser “premiado”. E que, geralmente, tenta tirar do lombo dos trabalhadores os vinténs para pagar a crise que eles mesmos provocaram. Exemplos? Temos aos montes.

Em plena contramão da política de arrocho executada para os trabalhadores, a PLR e a remuneração da diretoria e Conselhos da Cemig seguem outra tendência. De acordo com informações apuradas pelo Sindieletro, a PLR dos diretores da empresa este ano foi, em média, de 70% dos salários percebidos. Ou seja, em torno de R$ 32 mil, número 21 vezes maior que a PLR recebida por grande parte da categoria, que foi de, em média R$ 1.500.

E o abismo não para aí. Na Assembleia Geral Ordinária de Acionistas realizada em 12 de maio, foi aprovada a Verba Global Anual de R$ 30 milhões destinada para a remuneração da Diretoria e Conselheiros da estatal. O valor é mais que o dobro do que todo o montante da PLR 2016, que foi de R$ 13,36 milhões, para ser distribuído a cerca de 7.600 trabalhadores.

Os salários da alta direção seguem a mesma lógica: Como podemos observar no quadro abaixo, a despeito de qualquer crise ou adequação ao marco regulatório, a remuneração da alta “casta” da Cemig cresceu muito desde que Fernando Pimentel assumiu o governo do Estado. Somente os salários do presidente e dos diretores da Cemig subiram 85% e 96% respectivamente, enquanto, no mesmo período, o reajuste para os eletricitários foi de cerca de 20%, restando o ACT 2017/2018, que ainda não foi negociado.

Diante de tamanho abismo, é preciso refletir sobre quem produz e como é distribuída a riqueza produzida pelos eletricitários na Cemig. Você, que lê este texto agora, acha justo que os diretores e conselheiros recebam tamanha remuneração? Quem faria mais falta na empresa por um dia de trabalho: meia dúzia de diretores ou 7.000 trabalhadores do quadro técnico, operacional e universitário?

Nós, trabalhadores e trabalhadoras, devemos ter consciência de que estamos, antes de qualquer coisa, disputando não só um projeto de empresa, mas um modelo de sociedade, onde haja justiça, transparência, distribuição de renda e valorização do trabalho.

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