Terça-feira (19), às vésperas do Dia da Consciência Negra, acontecimentos na Câmara dos Deputados em Brasília revelaram que parte do Brasil ainda não consegue encarar a realidade da marginalização e do genocídio da população negra no país. Em um ato desrespeitoso e violento, o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) destruiu uma obra exposta na Câmara que continha dados do Atlas da Violência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e uma crítica em forma de charge à violência policial contra a população negra.
Os dados publicados pelo Ipea revelam que, no ano de 2017, 75,5% das vítimas de homicídio no Brasil eram negras. Isso significa que, para cada indivíduo não negro vítima de homicídio houve quase 3 indivíduos negros mortos. Além do que, no período de uma década, entre 2007 e 2017, a taxa de homicídio de pessoas negras cresceu 33,1%, enquanto a de pessoas não negras cresceu apenas 3,3%.
O relatório também revela que a imensa maioria do total das vítimas de homicídio em 2017 (91,8%) foram homens, dos quais mais da metade (55%) tinha idade entre 15 e 29 anos. Ademais, 74,6% dos homens e 66,8% das mulheres mortas possuíam baixa escolaridade.
Quando comparados com o perfil da população brasileira, tomando os fatores raça, renda, gênero e escolaridade, esses dados mostram o massacre das pessoas negras e pobres. O quadro é alarmante. Somados aos frequentes relatos da violência policial e das mortes de jovens e crianças em situações que não justificariam o uso do fogo da polícia, fica evidente a necessidade de se discutir a marginalização e o genocídio da população negra no Brasil.
Apesar disso, para o deputado que destruiu a obra, a questão não é debater as causas desses problemas, mas sim defender a honra dos policiais militares brasileiros. Em conversa com a jornalista Bela Megale, do O Globo, o deputado disse não se arrepender do ato, pois estaria defendendo 600 mil policiais militares acusados de “executores, assassinos e homicidas”.
O também deputado Daniel Silveira, do PSL-RJ, discursou em plenário saudando a atitude do seu colega de partido, afirmando que teve a oportunidade de trabalhar no combate ao crime no seu estado, onde pode concluir que mais negros morrem no Brasil simplesmente porque estão mais envolvidos em atividades criminosas, ignorando completamente fatores históricos e sociais que ajudaram a constituir o perfil atual das periferias brasileiras.
Fonte: Blog Os Novos Inconfidentes, por Enise Silva
Foto: Reprodução/Twitter