O presidente da Cemig, Cledorvino Belini, em recente entrevista à Rádio Itatiaia e em evento público, voltou a defender a privatização da Cemig, com informações equivocadas e direcionadas para que a população de Minas acredite que a solução é a venda da empresa para resolver o endividamente da estatal e do governo do Estado.
O Sindieletro cobra que a rádio Itatiaia também dê espaço à entidade para esclarecer a sociedade mineira, explicar por "a" mais "b" que a Cemig é eficiente, tem recursos próprios para investimento e que a privatização não é a solução. Queremos que a Itatiaia, como outros meios de comunicação de massa, abra o debate com o Sindieletro, dando-nos o direito de resposta.
Para o Sindieletro, o discurso de Belini não condiz com a realidade. Na Itatiaia ele disse que a Cemig precisa de R$ 21 bilhões para investimentos. Questionamos: qual o empresário tem esses recursos para investir? Lembramos que a Cemig usa de recursos próprios para os seus investimentos, ou seja, não precisa buscar no Estado. No planejamento da estatal, até o ano de 2021, a Cemig prevê investir R$ 6 bilhões na sua distribuidora (Cemig D), aumentando as linhas de transmissão de até 138 kV em mais de 2.300 quilômetros de linhas e implantando mais de 63 Subestações. Visando adequar o sistema aos atendimentos demandados e também para suportar as novas demandas de energia solar. São investimentos que compõem o custo da tarifa.
Cada investimento é acordado com a Aneel em valores que não impactam tanto nas tarifas. Ou seja, as tarifas pagam os investimentos, não o Estado.
Já nas afirmações de Belini durante o evento Conexões Empresariais, conforme a matéra do jornal O Tempo, do dia 22 de novembro (abaixo), vale lembrar o que o Sindieletro já divulgou e continua divulgando amplamente que a Cemig vai bem financeiramente e sua dívida não é risco de quebrar ou deixar de investir. Levantamento do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostrou que a Cemig está em plena recuperação financeira e se mantém com uma gestão eficiente. Em 2016, o lucro líquido da empresa foi de R$ 335 milhões, em 2017 evoluiu para cerca de R$ 1 bilhão e, em 2018, subiu para R$ 1,7 bilhão. O lucro líquido do 1º semestre/2018 foi de R$ 454 milhões, mas nesse mesmo período, em 2019, cresceu fantasticamente, para R$ 2,912 bilhões.
A dívida de R$ 12 bilhões é pagável porque, segundo o economista do Dieese, Carlos Machado, “não se trata de uma necessidade imediata (a quitação), uma vez que o pagamento desta dívida está programada para 2019-2025. Entretanto, nas atuais condições contratuais, há uma grande concentração do desembolso previsto para 2024, cerca de 5,4 bi, ou 43% do total. Mas é importante notar que, graças à capacidade de geração de caixa e à redução dos dividendos pagos ao patamar de 50% do lucro, a dívida líquida apresentou redução de 4,74% no 1º semestre de 2019”. E há boa perspectiva. Segundo a própria Cemig, a obtenção de Lajida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) para os próximos 5 anos (2019-2023) está entre 26 e 28 bilhões de reais. É um período anterior ao prazo previsto atualmente para o vencimento da maior parcela da dívida, em 2024.
Em relação à recente divulgação pela Cemig de que a empresa teve prejuízo (contábil) de R$ 281,9 milhões no terceiro trimestre deste ano, o também economista do Dieese, Frederico Melo, afirma que esse resultado se deveu fundamentalmente a uma provisão (tipo uma reserva), referente a uma decisão judicial de segunda instância acerca de impostos sobre PLR. Não foi informado o montante posto na provisão, mas o lucro acumulado no ano (já incluindo o 3º trimestre) ainda é de R$ 2,6 bilhões, 276% maior do que no mesmo período do ano passado.
Confira a matéria do O Tempo, repercutindo as declarações de Belini
‘Só resta privatizar a Cemig’, diz presidente da estatal
"Só resta privatizar (a Cemig)”, afirmou na sexta-feira (22) o presidente da companhia, Cledorvino Belini, durante o Conexões Empresariais, evento que reuniu em Nova Lima, região Metropolitana de BH, representantes do poder público e do setor privado.
Segundo ele, o nível de endividamento da empresa chega a R$ 12 bilhões e a geração de caixa da companhia “mal consegue pagar os investimentos” feitos atualmente.
“Precisa vir dinheiro de fora e eu entendo que ele deva vir da iniciativa privada. O principal problema da Cemig é a falta de investimento nos últimos dez anos. De um lado, eu pressiono o Estado para fazer aportes na empresa, que é o meu papel, e, do outro, o Estado está quebrado. Então só resta privatizar”, declarou.
Segundo Belini, suspeitas do Ministério Público Federal (MPF) de ilicitudes envolvendo empresas ligadas à estatal, como a Renova, que está sendo investigada pela operação Lava Jato, e a incapacidade de conectar estações solares à rede de energia afetam a eficiência da companhia.
“Estamos colocando problemas que nunca foram postos em cima da mesa”, diz. O presidente do órgão não revelou o tamanho do “rombo” nas contas da estatal por causa dos investimentos na Renova.
Ele afirmou que os valores estão “sob segredo de Justiça", mas que a situação já prejudica outros investimento. "Foi uma drenagem de recursos da Cemig para uma empresa que não atendeu às expectativas”, defende.
Questionado sobre o valor, porém, o presidente disse que “se você abrir na internet, há muitos números” que, segundo ele, podem quantificar o rombo à estatal. Quando questionado, ele não explicou o que quis dizer com a afirmação.
Além disso, o presidente da admitiu no evento que, caso o processo de privatização da estatal demore muito, existe um risco de que a Cemig e empresas nas quais a companhia investiu se tornem “invendíveis” para o mercado privado.
Desinvestimento
A privatização da Cemig depende de aprovação na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), mas vendas de parte dos ativos da estatal já começaram.
A principal forma encontrada pela empresa para iniciar o processo foi a liquidação de sua cartela de investimentos, segundo o presidente da companhia.
O primeiro passo, explica, foi a venda de “uma parte expressiva” das ações que a empresa tinha da Light, companhia energética privada que abastece o Estado do Rio de Janeiro.
“No futuro, pretendemos sair totalmente da carteira da empresa. Não tem cabimento investir lá se precisamos de dinheiro aqui”, disse.
O presidente também alega que há desinvestimento em andamento “em todas as empresas” da Cemig. Em geral, afirma Belini, são compradores "pulverizados" que apostam capital na Cemig.
Clima político
Questionado se o momento político nacional afasta aportes de dinheiro no Brasil e em Minas, o presidente da Cemig afirmou: "Nossos vizinhos atrapalham”, se referindo às recentes crises políticas na América Latina.
Para ele, as reviravoltas são mais danosas à economia brasileira do que o clima político local.
“Não concordo que a nossa política esteja atrapalhando. Faço muitas viagens e investidores estão confiantes em todo o mundo, veem no país uma grande oportunidade”, diz.
De acordo com ele, a maior expectativa do capital é relativa “ao ordenamento das leis contra corrupção”.
Usinas
A manutenção de três grandes usinas hidrelétricas na gestão da Cemig – que juntas representam quase metade do que se gera em energia no Estado hoje – é uma das grandes preocupações da Cemig para o próximo ano.
São elas: a Usina de Miranda, localizada no rio Araguari, em Indianópolis, A Usina de Emborcação, localizada no Rio Parnaíba, entre a divisa de Minas e Goiás, e a Usina de Nova Ponte, que fica no município de mesmo nome.
O investimento necessário para manter as hidrelétricas sob gerência da companhia mineira ainda serão definidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o processo de outorga acontecerá em 2023.
Contudo, Belini afirma que é o Estado tem até 48 meses para decidir se vai participar do processo e, para bancar os aportes, será necessário buscar um parceiro na iniciativa privada.
Fonte: O Tempo