Por Carlos Lindenberg
O governador Romeu Zema, do Partido Novo, pode ter lá a suas razões ideológicas. Própria dos liberais, para defender a privatização da Cemig. Mas não tem razões históricas nem econômicas. Do ponto de vista do seu partido, Zema até ficaria mal se não defendesse a venda da Cemig, assim como de outras empresas, como a Copasa. Aliás, ele já não ficou bem quando pediu, na virada do primeiro para o segundo turno, o voto para o então candidato Jair Bolsonaro, desprezando o candidato do seu partido, João Amoedo. Mas assim como o Novo não inventou a política, não seria Zema quem iria inventar, de forma que ele fez o que seu marqueteiro mandou fazer e pegou carona na onda em que surfava Bolsonaro. Houve algumas rusgas, mas tudo ficou bem entre o novo governador de Minas Gerais e o seu Partido Novo.
Zema, no entanto, não parece conhecer a história da Cemig e a sua contribuição para o desenvolvimento do Estado. Se conhecesse a simbiose que une a Cemig à história de Minas, não criticaria tanto a empresa ou defenderia tanto a sua privatização. Assim como Tancredo um dia disse que o outro nome de Minas é a Liberdade, do ponto de vista da Economia o ex-governador e ex-presidente da República não teria a menor dificuldade em dizer que o outro nome de Minas é a Cemig.
Não foi por acaso que em 1952 Juscelino Kubistchek chamou o engenheiro Lucas Lopes e o mandou reunir o que de melhor havia na engenharia mineira e nacional para construir a antiga Centrais Elétricas de Minas Gerais. Começava ali o binômio Energia e Transportes que instalou os alicerces da economia mineira, até então sustentada pela agropecuária, até se transformar na maior empresa do setor da América do Sul, tem mais de 180 sociedades e possuir 117 mil acionistas em 44 países. Vender a Cemig é desconhecer a sua história, por mais que o governador Zema queira fazer de Minas um Estado de menor tamanho, como vem prometendo. E aqui cabe também a frase de Carlos Drummond de Andrade, quando o grupo Azevedo Antunes começou a destruir a Serra do Curral em busca da cobiçada hematita. Dizia Drummond, – pobre Minas Gerais, venderam a sua alma de deram de pinga a sua pré-história.
É o que se pretende fazer agora. Vende-se a Cemig e dá de pinga a sua história. O governador Zema, como disse, pode ter com o seu Partido Novo o compromisso ideológico de deixar para os que vierem depois de nós um Estado menor, mas não terá os frutos que imagina colher, menos ainda quando diz que vai deixar parques eólicos com capacidade instalada de sete mil megawatts nos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Santa Catarina. A Cemig fez a sua história a partir da caixa d’água que sempre foi Minas Gerais, tanto é que possui 70 usinas hidrelétricas e termoelétricas. Mas não são apenas os números que fazem a história da Cemig, essa que o governador Zema está colocando à venda, por mais impressionantes que possam ser. O que faz a história da Cemig é a sua relação intrínseca com Minas Gerais e fez dos mineiros orgulhosos de terem a Cemig para a chamarem de sua. Contudo e por mais que queira ser coerente com o seu partido, Romeu Zema terá uma longa batalha pela frente. Primeiro, terá que vencer duas votações na Assembleia Legislativa – e no bojo de uma batalha que terá contra ele os servidores do Estado, quando não a maioria do legislativo – além de um referendo popular. É muita briga pela frente e um patrimônio para defender, que não é de homem só, mas de toda a população de um Estado que nasceu para ser maior do que é.
Fonte: Blog do Lindenberg