Em um ano considerado decisivo por conta das eleições, mulheres de todo o país voltaram a mostrar resistência ao governo Bolsonaro com atos em dezenas de cidades neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Com o lema “Pela vida das mulheres, Bolsonaro nunca mais – por um Brasil sem machismo, sem racismo e sem fome”, a principal mobilização do dia reuniu milhares que se reuniram na Avenida Paulista, no vão livre do Masp, de onde seguiram em marcha em direção à Praça Roosevelt, no centro da capital. Os protestos ao longo da manhã em mais de 20 cidades e durante a tarde marcaram também o retorno às ruas nessa data de luta para as mulheres após os atos virtuais, no ano passado, por conta da pandemia de covid-19.
A secretária de Políticas Sociais e Direitos Humanos da CUT, Jandyra Uehara Alves, que participou da manifestação na capital paulista, destacou a importância da mobilização neste ano. “Muito importante estarmos na rua hoje, unidas, na luta contra o neofascismo, contra o machismo e a misoginia. Estamos aqui contra a violência que se abateu nesse país e que atinge principalmente as mulheres. Precisamos sobretudo lutar pelos nossos direitos, pela vida das mulheres”, destacou. “Mulheres de sindicatos, movimentos populares e feministas estão em peso para que a gritar bem alto por esse Brasil fora Bolsonaro, fora Doria, fora racistas, fora machistas”, completou.
Em cartazes, as manifestantes também reivindicaram a cassação do deputado estadual Arthur do Val (sem partido), conhecido como Mamãe Falei. Os pedidos pela perda de seu mandato levam em conta as falas sexistas e racistas do parlamentar da extrema-direita. Em áudio vazado ele afirmou que as mulheres ucranianas “são fáceis porque são pobres”.
Marielle e outras lutas
As manifestantes também bradaram por empregos e direitos iguais e pela descriminalização do aborto. Em todas as regiões, os atos também contaram com a participação de diferentes grupos, como os de mulheres atingidas por barragens, sem terra, negras, trans, indígenas, entre outros. Repetindo diversas manifestações populares anteriores em que, a despeito do avanço de grupos totalitários no país, as chamadas maiorias minorizadas protagonizaram mobilizações de massa.
Simultaneamente ao ato em São Paulo, mulheres de Campinas, no interior, protestaram no Largo do Rosário, no centro da cidade. A vereadora Paolla Miguel (PT) lembrou que mesmo em espaços de poder, como a Câmara e o Parlamento, as mulheres não estão protegidas e são vítimas da violencia de gênero. Em novembro do ano passado, Paolla foi vítima de bolsonaristas antivacina que dispararam ofensas racistas à vereadora em razão de um projeto que exigia o “passaporte da vacina”. Às vésperas do Dia da Mulher, ontem (7), a petista contou, em entrevista ao Brasil de Fato, que um projeto de sua autoria contra a violência política de gênero foi barrado na Câmara de Campinas por levar o nome da vereadora carioca Marielle Franco (Psol), assassinada em março de 2018.
“Isso ilustra muito bem o que é essa violência política, esse fascismo em Campinas e como é difícil ser mulher em qualquer espaço. Por isso que a gente vem para a ruas para lutar, combater e pensar em políticas públicas para evitar esse tipo de coisa”, justificou.
Dezenas de atos pelo Brasil
Militantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e as mulheres organizadas no Movimentos Lagoas do Norte protestaram também em frente à Prefeitura de Teresina, no Piauí, contra o Programa Lagoas do Norte. De acordo com as organizações, o projeto pretende expulsar centenas de famílias para abrigar um complexo turístico e vários empreendimentos imobiliários. O governo Bolsonaro também foi lembrado nos protestos pelos altos preços do gás, da energia elétrica, dos combustíveis e dos alimentos.
Os atos pelo Dia da Mulher durante à tarde também levaram milhares às ruas de Florianópolis, Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e interior de Minas, Salvador, Fortaleza, São Luís, Natal e Distrito Federal. Em Minas as manifestantes acrescentaram o Fora Zema, que segue a linha política de desmonte dos serviços públicos e privatizações. Em Recife, mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do Levante Popular da Juventude e da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) realizaram uma intervenção na Ponte Duarte Coelho, que interliga os bairros da Boa Vista e Santo Antônio, com a frase “Mulheres contra a Fome e #ForaBozo”.
Há mais um século, segundo os movimentos, o Dia Internacional das Mulheres celebra a luta da parcela feminina da classe trabalhadora, conforme proposto na 2ª Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, em 1910. A expectativa da Marcha Mundial das Mulheres para o Brasil, segundo a ativista do movimento Nalu Faria é a de que “neste ano, o 8 de Março seja a marca do nosso avanço para derrotar o neoliberalismo. Que essa mobilização cresça e se torne um processo de mudança incontornável.”
Fonte: Rede Brasil Atual, por Clara Assunção