Nas palavras de seu criador, Mafalda ama os Beatles, a democracia, os direitos das crianças e a paz – nesta ordem. Odeia sopa (alusão ao autoritarismo), armas, guerra e James Bond. A mais conhecida personagem de Joaquín Salvador Lavado, o Quino, completa 50 anos no dia 29 de setembro. Os desenhos da menina de 6 anos duraram apenas nove anos, de 1964 a 1973, mas são comentados até hoje. Foi uma heroína de seu tempo, conforme definiu o escritor Umberto Eco, primeiro editor de Mafalda na Itália. No Brasil, as peripécias da menina chegaram apenas em 1982 e tiveram como editor o cartunista Henfil.
O próprio Quino, em entrevista, comparou sua criação com Charlie Brown, do cartunista norte-americano Schulz. Segundo ele, Charlie Brown vive em um universo infantil próprio, do qual estão rigorosamente excluídos os adultos. “Charlei Brown pode ter lido Freud. Mafalda provavelmente leu Che”, destaca.
Cinquentona, Mafalda não perdeu o encanto e tornou-se um dos quadrinhos mais explorados em vestibular e em livros didáticos.
O fim
Em 1973 a Argentina passava por momentos turbulentos que culminaram em uma das mais violentas ditaduras latino-americanas. Naquele ano, no dia 25 de julho, durante evento na Feira Internacional do Livro de Buenos Aires, Mafalda, a garota pacifista, libertária, de causas progressistas, mas, sobretudo, inimiga da violência, deixou de aparecer depois de um dos dias mais trágicos da história do país. Tratava-se do chamado massacre de Ezeiza, ocorrido na área do aeroporto que leva o mesmo nome, quando o exército argentino fuzilou um grupo de militantes que se opunham à ditadura. Até hoje não se sabe com certeza o número de mortos.
Cinco dias depois do massacre, Quino deixa de desenhar Mafalda. “Ela se retira porque é a paz, a pomba branca, a menina adorável, com seus amiguinhos”, ressaltou.
Com informações da Rede Brasil Atual
“Perigosa de inteligente”
“O que sou hoje como cartunista, o que não aprendi com Ziraldo ou com Henfil, devo ao Quino. Ele elevou a subestimada arte dos quadrinhos à altura de uma música do Chico Buarque, de um livro do Érico Veríssimo, de uma peça de Plínio Marcos ou de um filme de Carlitos.
Mesmo depois que Quino deixou de desenhar Mafalda, os livrinhos dela continuaram a ser publicados e fazem sucesso no mundo todo, com exceção dos Istazunidos. Neles Mafalda nos ensina que os quadrinhos podem nos fazer rir e nos tornar melhores ao mesmo tempo em que a alegria e a solidariedade são irmãs sagradas. Como num filme de Chaplin.
Depoimento do cartunista Nilson sobre Mafalda