Trabalhadores da Ecel lutam pela dignidade e resistem para garantir o básico
Nem a polícia, convocada para reprimir a mobilização, nem ameaças de demissões, nem as mentiras dos patrões para forçar a volta ao trabalho, nada disso intimidou os eletricitários da Ecel. A greve dos trabalhadores durou 24 dias e foi um marco histórico para os eletricitários.
A paralisação foi por dignidade e pelos direitos básicos garantidos na CLT, mas sistematicamente surrupiados pela empreiteira, com a omissão da Cemig que não fiscaliza os contratos e tampouco cobra das terceirizadas o respeito aos direitos trabalhistas.
Os trabalhadores decidiram retornar às atividades, mas deixaram claro que, se for preciso, vão voltar a cruzar os braços. Se a Ecel não atender reivindicações, virá um movimento mais forte, com adesões de trabalhadores de outras cidades, como de João Monlevade e Guanhães.
REIVINDICAÇÕES DOS ELETRICITÁRIOS
A Ecel Engenharia e Construções é contratada da Cemig no Vale do Aço. Seus mais de 100 trabalhadores cobram a implantação de plano de saúde, fim dos atrasos no pagamento de salários e do tíquete alimentação e pagamento correto das horas extras, entre outras reivindicações.
A maioria dos eletricitários da empreiteira recebe salário mínimo, valor quatro vezes menor que o salário de um eletricista do quadro próprio da Cemig. Eles são forçados a trabalhar por produtividade, mesmo atuando no sistema elétrico de potência, o que aumenta muito as chances de acidentes.
Nos 24 dias de greve ocorreram atos de protestos, com a convocação da Polícia Militar para reprimir o movimento, sem sucesso, e passeata. Também houve audiência de conciliação na Justiça do Trabalho de Coronel Fabriciano, mas sem acordo porque a Ecel se manteve firme no propósito de não negociar, insistindo para que o movimento fosse considerado ilegal. A ação da empreiteira, de dissídio de greve, foi encaminhada para o Tribunal Regional do Trabalho.
Solidariedade
Trabalhadores da Cemig e a população do Vale do Aço ajudaram os eletricitários da Ecel com doações de alimentos e dinheiro. Um pedágio solidário conseguiu arrecadar R$ 355, que foram usados para comprar cestas básicas.
O diretor do Sindieletro, Jobert de Paula, considerou a greve uma resposta à altura para os ataques da empresa contra os direitos básico dos trabalhadores. Para ele, a Ecel, como várias outras empreiteiras, ultrapassou o limite da legalidade ao sonegar direitos garantidos na CLT, legislação que precisa ser respeitada. “A luta dos eletricitários da Ecel é pelo básico do básico, é pela dignidade. Eles recebem salário e tíquete de miséria, um tíquete de sete reais que não paga nem o almoço. Eles não têm plano de saúde e tampouco recebem todas as horas extras pagas, entre outras mazelas”, criticou.
Jobert acredita que os ataques aos direitos fundamentais dos trabalhadores formam uma espécie de cartel das empreiteiras da Cemig. “É uma máfia, as empreiteiras se juntam para não pagar os direitos dos eletricitários”, enfatizou. Em relação à Ecel, ele disse que a Cemig contribui para mais irregularidades quando obriga a empreiteira a colocar na carteira dos trabalhadores cargos diferentes do de eletricista, como instalador e montador. “Só que eles são eletricistas e têm, inclusive, curso de NR 10”, afirmou