Para combater o neoliberalismo econômico e as perdas de direitos promovidas pelo governo de extrema direita de Jair Bolsonaro (PSL) é necessário mudar a forma de atuação sindical atual e, além dos que têm carteira assinada, defender também os desempregados, os contratados sem carteira e sem direitos e os informais que não têm quem os represente.
“Como diz o Papa Francisco, precisamos ser sentinelas e cuidar também de quem perdeu seus empregos. Se queremos de fato ser a Central dos Trabalhadores não podemos ter a lógica de defender só quem tem carteira assinada. Precisamos cuidar dos desempregados, dos que perderam a dignidade e perderam toda a possibilidade de terem alguma proteção social do Estado”, defendeu a vice-presidenta da CUT, Carmen Foro.
A proposta foi feita durante os debates da mesa “Sindicatos fortes, direitos, soberania e democracia”, formada pelo presidente da CUT, Vagner Freitas, a vice-presidenta da entidade Carmen Foro, o secretário de Relações Internacionais, Antonio Lisboa e pelo ex-ministro das Relações Exteriores do governo Lula, Celso Amorim. O debate ocorreu na terça-feira (8), durante o 13º Congresso Nacional da CUT (Concut), que está sendo realizado na Praia Grande (SP).
Nos momentos mais dramáticos para o país e para a classe trabalhadora, quando o Brasil parou para assistir a articulação política, midiática e jurídica do golpe que destituiu a presidenta Dilma Rousseff e colocou em seu lugar um presidente afinado com os empresários e os banqueiros, disposto a tirar direitos sociais e trabalhistas, a CUT foi capaz de dialogar em conjunto com os movimentos sociais, importantes instrumentos para a luta coletiva, como as frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, resgatando a verdadeira luta de classes, analisou Carmen Foro.
Para a dirigente, é preciso responder no próximo período a uma pergunta chave, quem a CUT vai representar? Ter claro que a disputa a fazer é uma disputa de projeto de Nação e a chave para isso é a defesa das riquezas do país, das estatais, e da democracia.
“Defender a democracia é defender a liberdade de Lula, sem tornozeleira, porque Lula é inocente e quem tramou contra ele é que deve ir para a cadeia. Nossa luta também é por soberania, defender a soberania da Amazônia, nossas empresas estratégicas de energia e petróleo. Tudo isto é uma questão de vida e morte, assim como a luta incansável da unidade da classe trabalhadora para a garantia de direitos e para enfrentar a destruição da educação no país que vem sendo feita pelo governo de Jair Bolsonaro”.
Sobre os ataques do governo Bolsonaro à educação, o secretário-adjunto de Relações Internacionais da CUT Nacional, Ariovaldo de Camargo, disse que a implantação das escolas militares é a terceira reforma nefasta que o neoliberalismo tenta implantar, assim como foram as reformas Trabalhista e da Previdência. No entanto, o dirigente acredita que há ainda espaço para a luta em defesa da educação pública e de qualidade.
“O governo Bolsonaro quer a reforma da educação implantando 220 escolas no modelo militar, mas precisamos lembrar que somos em número muito superior. Somos 184 mil escolas públicas que podemos defender porque o problema não é a escola, nem o professor, mas a falta de condições para um ensino de qualidade”.
Já o secretário do meio ambiente da CUT, Daniel Gaio, defendeu que este é um momento importante para que a Central faça corretamente uma análise de suas forças para o enfrentamento da perda de direitos.
“Nesta conjuntura adversa temos a tarefa de fazer nós mesmos a reforma sindical que represente toda a classe trabalhadora, os desempregados e os precarizados, e não somente os sindicatos”, avaliou Gaio.
Mulheres no centro do debate
Carmen Foro também disse que estava ali compondo a mesa de debates não como representante da CUT, mas como representante das mulheres que precisam ser ouvidas diante da conjuntura de desmonte, do conservadorismo e da economia à beira do caos e das tentativas de destruição da organização sindical.
“Esta conjuntura coloca os jovens, mulheres e negros sob ataque deste governo. Não é à toa que a violência contra a mulher tem crescido neste governo. E por isso, é impossível debater a conjuntura onde essas questões não estejam no centro do nosso diálogo”, afirmou a dirigente.
Para Carmem, até mesmo a questão da Amazônia, que, segundo ela, vem sendo vendida ao capital estrangeiro, deve ser debatida sob o ponto de vista das mulheres, já que são elas as primeiras a serem prejudicadas diante de uma crise e as primeiras a perderem seus empregos quando há desmonte de políticas públicas.
“A Amazônia brasileira sendo vendida, o Estado brasileiro sendo desmontado, com a venda das estatais, o fim de políticas públicas. Tudo isso prejudica imensamente as mulheres no mercado de trabalho. Não dá pra falar da classe trabalhadora somente vendo um sexo. A classe trabalhadora tem dois sexos”.
A dirigente lembrou que o Brasil é o país das desigualdades, de menor salário para as mulheres e a CUT deve lembrar diariamente de participar deste debate.
“Nós resistimos nos últimos quatro anos, resistimos contra o golpe de Dilma Rousseff, as reformas Trabalhista e da Previdência. As mulheres tiveram um papel extraordinário nesta luta, inclusive, na construção da greve geral de 2017 e ao realizarem a Marcha das mulheres negras, em 2015”, elogiou Carmen.
“Depois do golpe eles disseram que o Brasil estava pacificado. Nós da CUT dissemos que nós começamos a resistência”.
Sobre resistência, Ariovaldo Camargo lembrou que, além do Brasil, a América Latina passa por momentos cruciais neste mês de outubro, como a eleição para a presidência da Argentina que pode retirar o governo neoliberal de Maurício Macri do poder, a reeleição de Evo Morales, na Bolívia, e a manutenção da frente ampla de esquerda no Uruguai.
“A eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, trouxe impactos nas organizações de todo o mundo, mas hoje vivemos a possibilidade do início de reconstrução na América Latina”, acredita Ariovaldo.
Fonte: CUT