Eleitos com o discurso de representarem “a nova política”, tanto o presidente Jair Bolsonaro quanto o governador de Minas, Romeu Zema, 100 dias após assumirem seus mandatos, já encaram impopularidade e as contradições de um sistema político que não permite centralizar decisões. Ou seja, não dá para governar sem diálogo, negociações, alianças e acordos com o Legislativo. Muito menos sem perceber as expectativas da população.
Em Minas, várias audiências públicas na Assembleia foram envolvidas por críticas e protestos contra Romeu Zema, pela sua postura de não dialogar. Na própria audiência que discutiu o fechamento de localidades da Cemig, realizada em 15 de março, após pedido do Sindieletro à deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT), prefeitos e vereadores do interior cobraram de Zema (e do presidente da Cemig) a presença no debate e denunciaram a falta de diálogo.
Outra reunião na Assembleia, no dia 19 de março, também denunciou a posição do governo estadual de não conversar e negociar. Foi uma reunião para discutir a greve dos servidores da Jucemg (Junta Comercial do Estado de Minas Gerais), convocada também pela deputada Beatriz Cerqueira. Na ocasião, Cerqueira denunciou que o governo está ignorando os servidores e a Assembleia.
Até deputados que apoiam Zema criticam o autoritarismo do governo. Segundo Sargento Rodrigues (PTB) e Osvaldo Lopes (PSD), há de fato uma falta de diálogo com a Assembleia e isso é muito ruim, “um início sombrio” na relação com o Legislativo.
Com postura autoritária, o governo de Minas só ganha a desconfiança do Legislativo, dos empresários e da população. Enquanto isso, não há sinal de melhora na economia. Pelo contrário, como lembra o jornalista João Carlos Firpe Penna, em artigo publicado no site Interesse de Minas, as estimativas apontam para um PIB mineiro negativo em 2019 (-4%, na melhor das hipóteses, segundo especialistas). E Zema, para enfrentar o cenário danoso, vem optando pelo mais fácil e irresponsável: negociar a dívida com a União aos moldes que impõe o governo Bolsonaro, com a privatização da Cemig e de outras estatais e o congelamento dos salários dos servidores públicos, entre outras medidas que só trarão prejuízos aos mineiros.
Governo Bolsonaro não fica atrás
O Instituto Focus divulgou na última semana projeção do PIB abaixo de 2% em 2019 para o país. Pesquisa Data Folha, divulgada no domingo, dia 7 de abril, confirma a frustração. O otimismo do brasileiro com a economia caiu de 65% para 50%. Por outro lado, o índice de desemprego passou para 12,4%, ou 13,1 milhões de desempregados, segundo o IBGE.
A popularidade de Bolsonaro também vai despencando. Pesquisa encomendada pela corretora XP apontou que a avaliação positiva do presidente foi de 40% para 35% em três meses. Na pesquisa do Ins tituto Big Data, a situação de ótimo e bom foi de 50% para 38%. E o ruim/péssimo chegou a 31,2%. Em 100 dias de governo é a pior avaliação desde o governo de Collor de Mello, eleito em 1989.
Falta de diálogo leva à impopularidade
O diretor do Sindieletro, Jairo Nogueira Filho, lembra que os deputados são eleitos e, portanto, representantes do povo, e é fundamental o chefe do Executivo conversar com os parlamentares. Jairo destaca que, em Minas e no Brasil, o que se vê é uma total falta de diálogo com o Legislativo. Ele citou o exemplo dos professores de Minas, que não são ouvidos e muito menos seus representantes na Assembleia Legislativa. Os professores paralisaram as atividades no dia 11 deste mês justamente por não conseguirem ser escutados pelo governador Romeu Zema.
“O diálogo está estagnado, nem os deputados que buscam o debate sobre a situação da categoria estão sendo ouvidos. Isso leva a desgastes e à impopularidade", afirmou.
Jairo criticou o uso deliberado das redes sociais, tanto por Romeu Zema quanto por Bolsonaro. “Comunicação em redes sociais não é comunicação. É preciso amplo debate, escutar as diferentes opiniões. O projeto de privatização da Cemig é um exemplo gritante da falta de diálogo, o governador quer impor a venda da estatal sem considerar a legislação que dificulta privatizar e muito menos ouvir a Assembleia e os mineiros”, enfatizou. Ele acrescentou que o mesmo acontece em relação às barragens e aos servidores públicos.