Reajuste da aposentadoria não cobre despesas básicas dos beneficiários



Reajuste da aposentadoria não cobre despesas básicas dos beneficiários

Gastos com casa e saúde subiram mais do que o índice que corrige valor dos benefícios do INSS

Os aposentados do INSS já estão recebendo o benefício com o reajuste anual, mas o percentual, de 3,43% para quem ganha mais do que o piso, não será suficiente para cobrir despesas básicas.

O metalúrgico Gentil Fernandes Rosa, 69 anos, recebe R$ 4.080 do INSS. Com o reajuste, ele terá, por mês, cerca de R$ 140 a mais. “Entre água, luz e telefone eu gasto em torno de R$ 750, sem contar o convênio da minha esposa, de R$ 1.500, que sou eu quem paga”, diz o aposentado, que, ao pagar o convênio da mulher, deixa de ter condições de contratar um plano de saúde para ele.

Convênio médico é algo que não dá para entrar no orçamento da aposentada Rosa Maria de Jesus, 57, de jeito nenhum. “Imagine! Não tem como!”, diz ela. Com o benefício que ganha, no valor do salário mínimo (hoje em R$ 998), ela acaba dependendo do pai, que tem 96 anos e também recebe o piso. Nas compras do mês, as carnes são um luxo para a aposentada, que faz bicos como diarista para complementar a renda.

Quem recebe o piso dos benefícios do INSS tem um reajuste diferente, que leva em conta não apenas a inflação, mas o crescimento do país. Em 2019, o salário mínimo subiu de R$ 954 para R$ 998, alta de 4,61%.

Já os benefícios maiores são calculados pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), acumulado no ano anterior. Esse índice considera gastos de famílias que recebem entre um e cinco salários mínimos. “Mas o INPC não recupera o poder de compra do idoso”, diz Marcos Bulgarelli, presidente do Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados).

Em 2018, na capital, os planos de saúde aumentaram 11,24%, o cafezinho subiu 13,61% e o músculo, uma das carnes mais baratas, teve alta de 6,44%.

Os idosos sofrem ainda com a defasagem da tabela do Imposto de Renda, acumulada em 88,4% desde 1996, segundo o Sindifisco (sindicato dos auditores fiscais da Receita Federal).

Se a tabela fosse corrigida pela inflação nos últimos 21 anos, não teriam desconto do IR salários ou aposentadorias de até R$ 3.556,56. Hoje, é isento do pagamento do imposto quem tem renda mensal de até R$ 1.903,98.

INFLAÇÃO

O IPC-3i (Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade), calculado pela FGV (Fundação Getulio Vargas), ficou bem acima da inflação geral do país medida pelo INPC. De acordo com o índice, que calcula a variação da cesta de consumo de famílias compostas, em sua maioria, por pessoas com mais de 60 anos, a alta acumulada em 2018 foi de 4,75%. Os dados mostram que a inflação subiu de 0,69% para 0,80% no último trimestre.

Os grupos que mais pressionaram no ano passado foram os de saúde e cuidados pessoais e alimentação, com altas de 6,63% e 5,88%, respectivamente. No grupo principal, os aumentos dos planos de saúde (10,07%), dos gastos com consultas médicas e odontológicas (9,74%) e dos medicamentos (3,92%) foram os maiores vilões do orçamento dos mais velhos, que dependem mais desses serviços.

Já no último trimestre, a inflação para os idosos foi pressionada pelo grupo vestuário, que saiu de uma queda de 0,55% para alta de 1,46%, e educação, leitura e recreação (de 2,21% para 2,85%). As roupas foram o que mais pesaram, seguidas das passagens aéreas, que tiveram uma das maiores variações do índice, saltando de 19,60% para 30,61% no período.

Folha de São Paulo

item-0
item-1
item-2
item-3