A verdadeira abolição é construída com luta



A verdadeira abolição é construída com luta

A escravização de negros nas Américas pela coroa Portuguesa - do Século XV ao século XVIII - foi considerada o crime de maior crueldade no Brasil. A Lei Áurea, assinada em 13 de maio de 1888, continha apenas dois artigos: um que extinguia a escravidão e outro que determinava o cumprimento da determinação. E só.

Em um país que, no século XVIII, chegou a ter a maior população escravizada do mundo, a “lei da abolição” não previa nenhuma política pública que garantisse alimentação, moradia, terra, educação, emprego ou a reparação parcial das atrocidades praticadas contra o povo negro. Pelo contrário. Depois da Lei Áurea foram criadas várias leis proibindo, por exemplo, que negros frequentassem as escolas e espaços públicos, e até que fossem contratados  para estabelecimentos de comércio e indústria do Brasil.

O resultado dessa abolição apenas formal é que a partir do dia 14 de maio de 1888, a fome, o desemprego, e a falta de moradia se tornaram os mais perversos cativeiros dos negros “libertos” no Brasil. Após várias pesquisas históricas, finalmente percebeu-se que é pela conscientização e pela luta travada por heróis de carne e osso - abolicionistas brancos, mestiços e negros que enfrentam e denunciam a discriminação racial - que se constrói a verdadeira abolição.

Por isso, nada mais justo que o dia 20 de novembro, que marcou a morte do líder negro Zumbi dos Palmares, seja a data mais celebrada quando o assunto é vencer a discriminação e construir a igualdade racial em nosso país. Temos um longo caminho pela frente. Segundo o Dieese, em 2014, 50% das mulheres negras ainda recebiam metade do salário de mulheres não-negras no nosso país. No caso das vítimas de violência doméstica, as negras são o dobro das não-negras. Frente ao desafio, que sigamos juntos com o verdadeiro espírito de resistência e igualdade. E que ninguém solte a mão de ninguém nessa caminhada.

 

"A voz de minha filha recolhe em si a fala e o ato.
O ontem - o hoje - o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade." Conceição Evaristo

Salve, salve valente Zumbi dos Palmares !

 

 

(Rosana Zica)

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