Este assunto é espinhoso, mas urgente. No noticiário, inundam diariamente os horrores de estupros contra mulheres. Exemplos demais e poucas ações para coibir.
Vejamos algumas notícias recentes:
- Uma mulher de 20 anos foi arrancada dos braços do noivo, amarrada e estuprada por dois homens, durante horas, e abandonada em um terreno baldio. Os estupradores permanecem em liberdade.
- Uma garota de 18 anos foi atropelada. O motorista prestou socorro, disse que a levaria para o hospital, mas a estuprou. Ele continua em liberdade.
- A escritora Clara Averbuck, que já foi abusada aos 13 anos, aos 38 sofreu estupro dentro de um Uber quando voltava de uma festa. O estuprador, afastado do Uber, está em liberdade.
- Um homem ejaculou no pescoço de uma mulher dentro do ônibus. Um juiz soltou o estuprador, alegando que não foi estupro e nem constrangimento, mesmo sabendo que o homem tinha cinco passagens na Polícia por violência sexual contra mulheres. Uma semana depois, o mesmo homem ejaculou em outra mulher, também no ônibus. Foi preciso a reincidência para ele ser finalmente detido.
O Senado fez um censo que apontou: a cada 11 minutos uma mulher é estuprada no país, somando 130 estupros por dia. Mas há subnotificações. As pesquisas atestam que apenas 10% das vítimas denunciam. Cerca de 80% das vítimas são crianças e adolescentes com menos de 16 anos.
Quando a violência sexual é frequente e parte da sociedade acredita que a culpa é da mulher, cria-se a cultura do estupro, sustentada pelo machismo. Quando a publicidade, as novelas, os livros, filmes e conversas de bar apresentam narrativas de que homens são assim mesmo, atraídos por mulheres “que dão mole”, fortalece-se esta mentalidade perversa. Quando torna-se normal orientar meninas e mulheres para não saírem de casa à noite, para não usarem determinadas roupas e se comportarem como uma “pessoa respeitável” (mas essa recomendação não é feita aos garotos), banaliza-se a violência contra a mulher, consolidando a cultura do estupro.
É esse contexto que precisa ser entendido pela sociedade e combatido com toda força, por mulheres e homens que não enxergam o gênero feminino como um objeto. Só quem é mulher sente bem o que é ser constantemente vítima de constrangimentos e abusos sexuais, das cantadas, do desrespeito, sem falar dos relacionamentos tóxicos com homens que se acham no direito de agredir esposas ou namoradas, em nome do ciúme ou, simplesmente, pela recusa de um não.
O Judiciário, o Legislativo e Executivo não fazem a parte que lhes cabe. Agindo na indiferença são condescendentes com o machismo e, assim, permitem que os estupradores fiquem livres e as vítimas amarguem as consequências emocionais e psicológicas dessa violência. Leis mais rígidas deveriam ser criadas para punir os estupradores e nenhum juiz deveria liberar quem cometeu violência sexual. Políticas públicas para proteger as vítimas e prevenir os estupros são para ontem.
*Mariângela Castro