Um milhão nas ruas em defesa da educação e contra a reforma da Previdência



Um milhão nas ruas em defesa da educação e contra a reforma da Previdência

Na  quarta-feira (15), as ruas do país foram tomadas por milhares de estudantes, professores e trabalhadores de escolas e universidades, por conta do Dia Nacional de Greve na Educação, em protesto contra os cortes anunciados pelo Ministério da Educação (MEC) para o setor. Após as 14h, todos os estados já haviam registrado manifestações.

Em Belo Horizonte mais de 250 mil manifestantes, principalmente estudantes e trabalhadores, lotaram as avenidas e praças. O estudante de História da UFMG, Cleber de Souza, diz que já esperava uma ato daquelas proporções uma vez que o Movimento Estudantil está se articulando de novo nas universidades. "A maioria dos alunos está percebendo a importância da educação pública e de qualidade para a democracia e estamos aqui para defender as universidades e escolas. Também estamos contra uma reforma da previdêcia que, nesses moldes, não beneficia em nada a população."

O professor Giovani Azevedo, do Colégio Técnico da UFMG, diz que os cortes significativos na educação já têm impacto imediato para o funcionamento das universidades e institutos como a redução do atendimentro na Faculdade de Medicina e interrupção de pesquisas na área de saúde e da solução para a mobilidade urbana e ressaltou que bolsas de mestrado e doutorado  estão sendo cortadas. "Além de tudo estão usando este recurso tirado da educação para fazer chantagem desonesta com deputados para conseguirem aprovar uma reforma da previdência que traria prejuízos para todas as classes sociais e só favoreceria bancos com os seus fundos de pensão", denuncia.

Vários eletricitários participaram do ato em BH, como o engenheiro Alexandre Heringer, que  destacou a importancia da manifestação gigantesca em várias cidades. "Hoje é um dia histórico que marca o renascimenro da luta popular. Parece que a juventude acordou. O governo acumulou uma série de erros e maldições e está tendo a resposta que merece" , diz. Para Heringer o ato gigante foi uma reedição, 40 anos depois, da imensa passeata contra a ditadura militar no Brasil, realizada por estudantes nos anos 1970, no mesmo itinerário, enfrentando a polícia para mostrar a força do movimento popular e encerrar a ditadura. 

O sucesso das manifestações foi tamanho que as entidades organizadoras decidiram convocar um novo protesto em âmbito nacional para o próximo dia 30 de maio.

Segundo a apuração da Confederação Nacional de Trabalhadores da Educação (CNTE), mais de um milhão de pessoas participaram das manifestações. Conforme levantamento do Brasil de Fato na imprensa e nas redes sociais, houve manifestações em mais de 200 municípios.

No último dia 30 de abril, Abraham Weintraub, ministro da Educação, anunciou cortes de 30% em todos os níveis da educação. Nas universidades federais, o governo bloqueará 30% do orçamento previsto para pagamento de dívidas não obrigatórias, como trabalhadores terceirizados, obra, compra de equipamentos, água, luz e internet. 

Na quarta-feira (15), o presidente Jair Bolsonaro chegou no Texas (EUA) e criticou os manifestantes. "É natural, agora a maioria é militante. Se você perguntar a fórmula da água, não sabe nada. São uns idiotas úteis, uns imbecis, que estão sendo usados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo de muitas universidades federais no Brasil", afirmou o mandatário, ignorando o perfil dos manifestantes, formado em grande parte por alunos do ensino médio.

Os protestos também tiveram como alvo a reforma da Previdência proposta pelo governo federal e foram considerados pelas entidades organizadoras como um "esquenta" para greve geral que está prevista para ocorrer no dia 14 de junho.

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Norte

De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores das Instituições Federais de Ensino Superior no Estado do Pará (Sindtifes), dez mil pessoas estiveram na Praça da República, no centro de Belém, no Pará, protestando contra os cortes na educação.

Professores, estudantes e trabalhadores da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) e da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) também se mobilizaram em Marabá e Santarém, respectivamente. 

Professores, trabalhadores e estudantes fecharam os portões de acesso à Universidade Federal de Roraima (UFRR), em Boa Vista. Alunos e docentes do Instituto Federal de Roraima (IFRR) e da Universidade Estadual de Roraima (UERR) também aderiram aos atos.

No Acre, 1,2 mil pessoas integraram o protesto que fechou a avenida Brasil, em Rio Branco, de acordo com a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Mais cedo, os portões da Universidade Federal do Acre (UFAC) e do Instituto Federal do Acre (IFAC) foram fechados.

Em Rondônia, estudantes da Fundação Universidade Federal de Rondônia (Unir) participaram da manifestação na região central de Porto Velho. No campus de Guajará-Mirim, na fronteira da Bolívia, estudantes e professores do Instituto Federal de Rondônia (Ifro) e a população local organizaram um protesto na porta da entidade, de onde partiram em caminhada até a rodoviária da região.

No Tocantins, a comunidade acadêmica local trancou os acessos à Universidade Federal do Tocantins (UFTO) e da Universidade Estadual do Tocantins (UETO). No interior do estado, as cidades de Guripi, Araguaína, Araguatins e Dianópolis também se mobilizaram.

Em Manaus, capital do Amazonas, a avenida Rodrigo Otávio foi palco de um protesto contra os cortes na Educação. 

Nordeste

O bairro do Farol, região central de Maceió, capital de Alagoas, foi o ponto de encontro dos manifestantes. De lá, caminhadaram até o Centro Educacional de Pesquisa Aplicada (Cepa). Dez mil pessoas participaram da manifestação, de acordo com os organizadores. Em Arapiraca, interior do estado, outras duas mil protestaram na Praça da Prefeitura.

Houve panfletagem em Natal, Rio Grande do Norte, organizada pelos estudantes do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN). Com a presença do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos, um ato ocorreu dentro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), pela manhã.

Em Mossoró, manifestantes fecharam a avenida Presidente Dutra pedindo a revogação do bloqueio no orçamento. Pelo interior, as cidades de São Gonçalo do Amarante, Nova Cruz, Fernando Pedroza e Currais Novos também tiveram protestos. 

Em Teresina, ocorreu um ato na avenida Rio Branco, que terminou na Praça da Bandeira. Nas ruas, secundaristas e universitários formavam a linha de frente do protesto. Além da capital, os municípios de Picos, Floriano, Pedro II, Parnaíba, Cocal, Corrente e Angical do Piauí também registraram manifestações.

Em Aracaju, o protesto começou cedo. Eram 6h quando estudantes, funcionários e professores da Universidade Federal de Sergipe (UFS), no campus de São Cristóvão,  bloquearam os portões de acesso à instituição. A ação foi repetida por alunos e docentes do Instituto Federal de Sergipe (IFS).

De acordo com os organizadores, 57 mil pessoas participaram das manifestações no estado da Paraíba. Ao todo, houve registro de protestos em oito municípios. Na capital, João Pessoa, 30 mil pessoas se reuniram no centro, em frente ao colégio Lyceu Paraibano,e caminharam até o Ponto de Cem Réis. Houve, também, protestos em Campina Grande, Areia, Sousa, Cuité, Monteiro, Guarariba e Patos. 

A estudante de psicologia da UFPB, Camila Ramalho Ramos, pediu que os cortes sejam revogados pelo MEC. "Educação não é gasto, é investimento. Queremos estudar e produzir ciência para esse país."

Anderson Luiz, vice-presidente regional da União Nacional dos Estudantes (UNE) em João Pessoa, explicou por que houve a participação massiva de alunos do ensino fundamental, médio e superior na manifestação. "Não só na Paraíba como em todo o Brasil, os estudantes são os protagonistas dessa mobilização. São muitos estudantes carentes que estão com seus dias contados diante da universidade por conta da falta de bolsas e falta de investimentos em educação".

Apesar da chuva, estudantes, professores e sindicalistas se concentraram no cruzamento entre as ruas Meton de Alencar e Senador Pompeu, no Centro de Fortaleza, capital do Ceará. Segundo os organizadores, 100 mil manifestantes participaram do ato, que passou pelo centro e foi encerrado na avenida da Universidade.

Em Salvador, capital baiana, o bloqueio econômico na Educação motivou o fechamento de escolas públicas e privadas. Ao menos 80 mil pessoas, de acordo com os organizadores, participaram da manifestação que ocupou todas as faixas da avenida Sete de Setembro e terminou na Praça Castro Alves. Ilhéus, Juazeiro, Feira de Santana e Vitória da Conquista também tiveram protestos.

A capital São Luis, no Maranhão, teve protestos de um grupo de estudantes, funcionários e professores da Universidade Federal do Maranhão (Ufma) protestaram em frente à sede da entidade.

A Secretaria de Educação do Recife, Pernambuco, informou que, das 309 escolas municipais do município, 122 fecharam nesta quarta-feira. Em Recife, os professores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) se reuniram na região central e tiraram dúvidas da população local sobre diversos temas [confira no vídeo acima]. As cidades de Serra Talhada, Garanhuns, Pesqueira e Caruaru tiveram manifestações.

Centro-Oeste

Organizadores das manifestações divulgaram que 50 mil pessoas participaram do protesto em Brasília. Eram 15 mil para a Polícia Militar. A concentração foi no Museu da República e o ato se deslocou até a Praça dos Três Poderes.

Universitários, docentes, técnicos administrativos e estudantes de ensino médio compunham a maior parte da manifestação, que subiu o eixo Monumental pelo outro da Esplanada às 13h. Como previsto, às 14h30 boa parte dos manifestantes já haviam se dispersado na Rodoviária de Brasília.

Em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, os manifestantes caminharam até o Terminal Morenão. Na concentração do ato, as lideranças do ato divulgaram que havia ali 400 manifestantes. Luciana Beatriz de Araújo Colombo, estudante e indígena da etnia Terena, pediu que haja foco em maiores investimentos, não corte. "Eu estou aqui em prol da educação e contra os cortes. Espero que mobilizando provocamos alguma mudança no que está acontecendo."

Na capital do Mato Grosso, Cuiabá, os manifestantes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do mato Grosso (IFMT) deram um abraço simbólico na sede da reitoria. A ação foi repetida pelos estudantes do campus Professor Olegário Baldo, na cidade de Cáceres.

A mobilização foi grande em Goiás. Na capital, Goiânia, 20 mil estiveram no protesto, de acordo com os organizadores. A manifestação partiu da Praça Universitária e terminou na Praça Cívica. De acordo com o Sindicato de Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego), 80% das escolas estaduais e 70% das municipais estão fechadas. Nenhum campus das universidades e institutos federais abriu as portas hoje. Houve protesto, também, em Jataí e Catalão. 

Sudeste

Segundo levantamento do Brasil de Fato, 20 cidades mineiras tiveram protestos nesta quarta. Araçuaí, Almenara, Belo Horizonte, Lavras, Uberaba, Viçosa, Varginha, Poços de Caldas e Governador Valadares tiveram manifestações pela manhã. Já em Diamantina, Itajubá, Juiz de Fora, Montes Claros, Mariana, Frutal, Ouro Preto, Ipatinga, Patos de Minas, Ouro Branco, Itabira e São João del Rei acontecem nesta tarde. Campi de Institutos Federais (IFs) também organizaram protestos pelo interior do estado.

Na capital Belo Horizonte, 250 mil manifestantes, entre estudantes, professores e trabalhadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), do Centro de Federal de Educação Tecnológica (Cefet) e da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) participaram das manifestações, que saiu da Praça da Estação e terminou na Praça Raul Soares. 

No estado do Rio de Janeiro, foram registradas manifestações em todas as regiões do estado. Atos aconteceram em Angra dos Reis, Nova Iguaçu, Barra Mansa, Macaé, Seropédica, Campos dos Goytacazes, São João de Meriti, São Gonçalo, Araruama, Barra do Piraí, Itacoara, Nova Friburgo, entre outras. As manifestações foram organizadas pelas centrais sindicais, movimentos populares, Frente Brasil Popular, Frente Povo Sem Medo, entidades de base do movimento estudantil, partidos de esquerda e movimentos do campo progressista.

Na capital do estado, Jessy Dayane, vice-presidenta da UNE, afirmou que o dia foi histórico e enalteceu a organização dos manifestantes. “Milhares de estudantes ocuparam as ruas do país inteiro junto com professores e trabalhadores. Está lindo de ver. É a maior mobilização desde que Bolsonaro foi eleito”. 

Após o protesto, um ônibus foi incendiado na pista lateral da Avenida Presidente Vargas, na região central do Rio. Até as 21h20, não havia registros de feridos.

Em São Paulo (SP), a concentração da manifestação, marcada para o vão do Museu de Arte de São Paulo (MASP), já tinha 200 mil pessoas antes da saída do ato, marcado para 16h30. 

Raquel Santos Marques de Carvalho, professora do Departamento de Biofísica da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), estava na manifestação em São Paulo e criticou a fala do ministro em que insinua que haja "balbúrdia" nas universidades. 

"Qualquer pessoa que tem um pouco de bom senso e conhece um pouco como funciona a universidade sabe que nada disso que está sendo propagado é verdade. Eu acho que, talvez, a ideia de ter essas falas é para influenciar pessoas que desconhecem o que acontece dentro da universidade, como se estuda e se faz pesquisa na universidade, para que a gente tenha cada vez menos apoio e que as universidades diminuam", encerrou a docente.

A estimativa da organização é de que o ato tenha reunido ao menos 250 mil pessoas.

A presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), deputada estadual Maria Izabel Azevedo Noronha (PT), criticou o projeto de reforma da Previdência de Bolsonaro, que pretende privatizar o INSS e dificultar o acesso à aposentadoria: "A aula de cidadania que se dá aqui hoje não é pouca coisa. Essa luta contra os cortes é conjunta contra a reforma, porque sem aposentadoria também não há perspectiva para o movimento estudantil".

 Estudantes secundaristas pararam as ruas do bairro de Higienópolis, na região central. No interior do estado, as cidades de Sorocaba, Presidente Prudente, Jundiaí, Ribeirão Preto, Campinas, Jaboticabal, Santos, Araraquara, Rio Claro e São Carlos tiveram protestos.

Cinco mil pessoas, de acordo com os organizadores, participaram do protesto em Vitória, no Espírito Santo. O ato partiu da Praça do Papa e terminou na Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales).

Sul

Em Santa Catarina, estudantes organizaram um café da manhã na entrada do campus Florianópolis da Universidade Federal de Santa Catariana (UFSC). Pela tarde, cerca de 10 mil manifestantes caminharam da UFSC até o centro da cidade, onde se juntaram à concentração que ocorria em frente à Catedral, principalmente de estudantes secundaristas e do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). Houve protestos em Itajaí, Chapecó, Blumenau, Lages, Camboriú e Concórdia.

Em frente ao prédio da Universidade Federal do Paraná (UFPR), na praça Santo Andrade, região central de Curitiba, 20 mil pessoas se concentraram para protestar contra os cortes na Educação, de acordo com os organizadores. O ato foi encerrado na Praça Nossa Senhora de Salete, no Centro Cívico. Nos municípios de Ponta Grossa e Maringá, a comunidade acadêmica também se mobilizou.

Em Foz do Iguaçu (PR), trabalhadores e estudantes da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e do Instituto Federal do Paraná (IFPR) protestaram juntos contra a reforma da Previdência e os cortes na educação. A manifestação começou no Terminal de Transporte Urbano da cidade e seguiu em caminhada rumo ao centro do município.

Na capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 20 mil pessoas se concentraram na Esquina Democrática a partir das 18 horas, de acordo com os organizadores. Para a Polícia Militar, foram 5 mil manifestantes. Pela manhã, a PM foi truculenta para dispersar estudantes que estavam concentrados em frente a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) bloqueando a rua Sarmento Leite. A corporação usou balas de borracha e bombas de gás lacrimogênio. Santa Maria, Caxias do Sul, Uruguaiana, Panambi, Cruz Alta, Santo Augusto e Pelotas foram os municípios do estado que também registraram manifestações.

Fonte: jornal Brasil de Fato 

 

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