Relações flexíveis ou violência contra o trabalhador?



Relações flexíveis ou violência contra o trabalhador?

Se o patrão pinga uma gota de veneno, diariamente, no copo de água do empregado, é adicional de insalubridade?

Se o empregado pinga uma gota de veneno, diariamente, no copo de água do patrão, é crime hediondo?

Se o patrão retira a possibilidade de convivência do empregado com sua família, é venda de férias?

Se o empregado retira a possibilidade de convivência do patrão com sua família, é sequestro?

Se o patrão fica com 95% do que o empregado produz, é extração da mais-valia?

Se o empregado fica com 95% do que o patrão produz, é roubo?

Se o empregado sofre acidente de trabalho, ele descumpriu o protocolo?

Se o patrão sofre acidente de trabalho, ele estava cansado demais?

Se o empregado adoece pelo trabalho, é corpo mole?

Se o patrão adoece pelo trabalho, ele precisa de férias/afastamento?

Se o empregado faz pausas para descanso durante a jornada, está desperdiçando tempo produtivo?

Se o patrão não faz pausas para descanso durante a jornada de trabalho, está favorecendo seu adoecimento por estresse?

Se o empregado trabalha de forma ininterrupta, é venda de folgas?

Se o patrão trabalha de forma ininterrupta, é tortura?

Se o empregado morre em serviço por falta de equipamentos de proteção coletiva, é acidente de trabalho?

Se o patrão morre em serviço por falta de equipamento de proteção coletiva, é assassinato?

Se o empregado é explorado por dois patrões ao mesmo tempo, é terceirização?

Se o patrão é explorado por dois empregados simultaneamente, é castigo?

Se o empregado não faz pausas para descanso durante a jornada de trabalho, está favorecendo a produção?

Se o patrão faz pausas para descanso durante a jornada de trabalho, está favorecendo a produção?

Se o empregado faz apenas 15 minutos de almoço, sem sequer sair do posto de trabalho, está ampliando sua produtividade?

Se o patrão faz apenas 15 minutos de almoço, sem sequer sair do posto de trabalho, está se expondo a doenças físicas e psíquicas?

Certamente alguém dirá: as perguntas não são comparáveis, pois em um panorama de relações trabalhistas flexíveis e modernas o empregado poderá concordar ou se negar! Entretanto, pensemos: qual é a margem de escolha daquele que trabalha para não morrer e morre de trabalhar?

Por Laís Di Bella e Julie Amaral são psicólogas do trabalho na Secretaria de Saúde do Trabalhador do Sindieletro

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