Pular o lanche para pagar o jantar: a realidade dos trabalhadores de campo da Cemig



Pular o lanche para pagar o jantar: a realidade dos trabalhadores de campo da Cemig

Atualmente, estamos no pior momento da pandemia desde seu início, em março de 2020, e sabemos a importância da Cemig e de seus funcionários, como trabalhadores de serviços essenciais, para que o cenário atual não se torne pior ainda. São serviços em campo que não podem esperar, pois a energia é fundamental para os hospitais, comércio e para quem segue em casa.  

O coronavírus trouxe vários problemas em diferentes searas: sanitária, social, econômica, psicológica e cultural.  E dentro da Cemig, não foi diferente: entre medidas de proteção instáveis, demissões de trabalhadores e decisões que, no geral, não levam em conta o período conturbado que vivenciamos, a gestão da empresa demonstra não estar completamente a par das necessidades e sacrifícios de seus funcionários.  

Passamos por uma alta histórica na inflação. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) saltou para 0,93% em março, como divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na quinta-feira (25). É o maior resultado para um mês de março desde 2015, e dá para perceber; estamos sofrendo com a alta dos combustíveis, do gás de cozinha e dos alimentos.  

 

Preços sobem, mas limite, não 

Apesar do cenário nacional, o auxílio da Cemig para a alimentação em serviço não recebe reajuste há seis anos. Atualmente, o valor disponibilizado pela empresa é de R$28,00 para o almoço, R$28,00 para o jantar e R$6,00 para o lanche. Mas com a alta dos preços, os funcionários estão passando pelo transtorno e constrangimento de ter que complementar o pagamento com seu dinheiro. 

Um trabalhador nos conta que o dinheiro não tem sido suficiente para cobrir os gastos. “O suco é no mínimo R$5, o pão de queijo varia entre R$4 e R$5. A água mineral é de R$3,50 para cima. E quando é refeição, dificilmente achamos preços menores que 50 reais o quilo”, explica, acrescentando que a alternativa, muitas vezes, é procurar restaurantes que servem comida com procedência duvidosa para que o pagamento caiba no limite disponibilizado pela empresa.  

“Muitas vezes, colegas deixam de lanchar para poder completar o jantar”, ele diz. E antes da crise acentuada deste ano, os preços já vinham aumentando e dificultando a vida do trabalhador. Carlos Machado, representante da subseção do Dieese no Sindieletro, cita a Pesquisa Anual do Preço Médio da Refeição, divulgada pela Sodexo. Feita pela Associação Brasileira de Empresas de Benefícios para o Trabalhador, a pesquisa usou como base os anos 2019/2020: o preço médio de uma refeição completa, com a inflação de 12 meses (5,41%) e “fora do domicílio”, é de R$30,64.  

Já o prato executivo fora do domicílio, com a inflação de 12 meses (5,41%), sai por R$52,22. O valor médio, acrescido da inflação dos cinco tipos de refeição (refeição completa, comercial, autosserviço, executivo e à la carte), fica em R$39,78. É importante lembrar que, em algumas cidades do interior, esses valores são muito maiores. Outro ponto a se considerar é o fato de que diversos municípios não têm restaurantes self-service para o jantar, mesmo no período pré-pandemia.  

 

Para a diretoria, saldo para refeições dá para comprar caviar 

Para piorar a situação, o Diário Oficial do Estado de Minas Gerais publicou, na quarta-feira (24), a contratação do SESI para fornecer refeições de almoço para 12 diretores da Cemig, seis secretárias executivas e uma assessora da Diretoria Jurídica. O valor contratado foi de R$1.200.000,00 para um ano de atendimento. São, portanto, R$100.000,00 por mês — o que dá em torno de R$4.500,00 por dia útil e R$230,00 por cada almoço.  

O site Bem Minas lembra que, por conta de idade e comorbidades, três diretores não trabalham no prédio da Av. Barbacena. Outros quatro diretores, paulistas, atuam em São Paulo. Portanto, são 12 pessoas atendidas, e o valor de cada almoço passa para algo em torno de R$350,00. É impossível não questionar: por que a diretoria recebe estas regalias enquanto os trabalhadores têm apenas R$62,00 para almoço, lanche e jantar?  

É absurdo que a diretoria seja tratada a pão de ló, enquanto quem põe a mão na massa pela empresa, debaixo de chuva e sol, se expondo diariamente, não recebe o suficiente para se alimentar bem. A alimentação adequada é um dos fatores cruciais para manter a saúde em dia, principalmente quando se é exposto ao risco de contaminação, como é o caso dos funcionários que trabalham em campo. Além do abalo psicológico e os danos à saúde que a crise de coronavírus pode nos causar, os efeitos no bolso já estão sendo fortemente sentidos, e não há, num horizonte próximo, a perspectiva de melhora.  

Por isso, o Sindieletro solicita a revisão do limite custeado para alimentação em serviço, de forma que os trabalhadores não precisem desfalcar seu orçamento familiar, que já está afetado pela crise econômica. Lembramos que o amparo e proteção aos empregados, neste momento, também passa pela percepção ampla das múltiplas crises que o país atravessa e que afetam, direta ou indiretamente, a vida dos trabalhadores e de suas famílias. 

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