Há 147 anos surgiam os princípios do feminismo organizado



Há 147 anos surgiam os princípios do feminismo organizado

Nós, mulheres do Século XXI, vivemos quase que sem refletir sobre como foi árdua a luta, com prisões e mortes de companheiras, para termos, hoje, várias conquistas, como o direito de votar e ser votada, o acesso à educação em todas as graduações e ao mercado de trabalho, à aposentadoria, à pensão alimentícia para viúvas e filhos(as) menores e à licença maternidade, entre outros direitos.

E, apesar das conquistas já consagradas, é muito claro para nós que há um caminho duro e longo pela frente, com as lutas atuais pela igualdade de oportunidades e salários e contra o machismo e a violência ao sexo feminino.

As lutas históricas das mulheres têm muito a nos ensinar e a nos motivar a seguir em busca de mais direitos. Exemplos são muitos, no exterior e no Brasil, e valem muitos artigos e estudos. Neste espaço, citaremos apenas um exemplo, que mostra os primórdios do feminismo organizado.

No Século XIX, na França, foi conquistado um governo popular cuja vitória se consagrou graças à união das mulheres. O movimento, chamado Comuna de Paris, teve à frente de batalha  homens e mulheres que lutaram e conseguiram a ocupação e gestão da capital francesa por mais de dois meses- entre 18 de março e 28 de maio de 1871. A Comuna é até hoje inspiração da luta por justiça social e em defesa do feminismo.

A França estava em guerra com a Prússia, todo o Exército se encontrava em batalha,  e a conjuntura da época era de muito sofrimento social e extrema exploração dos trabalhadores. Com tanta miséria, operários e operárias se juntaram à Guarda Nacional e tomaram Paris.

As operárias pegaram em armas e lutaram pelo governo popular. Criaram a União de Mulheres, organizada por um Comitê Central e demais Comitês de Distritos. A União de Mulheres lançou as bases para o feminismo consolidado nos dias de hoje. Três eram as suas bandeiras: a mulher engajada no mercado de trabalho, a garantia de educação para todas as crianças e todas as mulheres e a defesa irrestrita do governo popular de Paris.

Elas organizaram grupos femininos cooperativos para oferecer trabalho e qualificação às mulheres, com salários iguais aos dos homens; conquistaram a redução da jornada de trabalho e acabaram com a tutela da religião na vida das famílias. Além disso, garantiram que toda mulher teria o direito de votar e ser votada; toda viúva – casada ou não, mãe solteira ou não- e seus filhos menores teriam direito a uma pensão por morte. Lembramos que, naquela época, em todo o mundo, as mulheres eram submetidas à vontade dos pais e maridos, inclusive na escolha do esposo. O Estado não reconhecia uniões fora do casamento oficial e tampouco os filhos ilegítimos.

Infelizmente, após 70 dias de governo popular, o Exército francês retomou Paris, com a promoçao de um banho de sangue. Cerca de 30 mil trabalhadores foram mortos, sendo milhares de mulheres. Duzentos e setenta pessoas foram condenadas à morte, entre elas, oito mulheres, cujos crimes foram fazer barricadas e cuidar dos feridos em defesa do governo popular.

Uma liderança feminina teve destaque na luta, Louise Michel, fundadora da União das Mulheres. Ela comandou um batalhão feminino em barricadas. Escapara à morte em julgamento que lhe condenou à deportação. Fez sua própria defesa e pediu sua pena de morte, em solidariedade às companheiras e companheiros assassinados.

“... Uma vez que, ao que parece, todo coração que bate por liberdade só tem direito a um pouco de chumbo, exijo minha parte! Se me deixardes viver, não cessarei de clamar vingança e denunciarei, à vingança de meus irmãos, os assassinos da Comissão das Graças”. E assim Louise reivindicou sua morte durante o seu julgamento, mas viveu, até 1905, até 74 anos. Deportada, foi anistiada em 1880, mas voltou a ser presa e solta algumas vezes depois, porque nunca deixou de lutar e clamar por justiça e igualdade entre mulheres e homens.

Por Mariângela Castro

 

 

item-0
item-1
item-2
item-3