Artigo: Grito parado no ar



Artigo: Grito parado no ar

Entre as mais recentes regressões que nos afrontam está a retomada do projeto de destruição do Sistema Único de Saúde (SUS), que vem sendo comido pelas beiradas nos últimos tempos: criação de planos de saúde para pobres com baixíssima cobertura, questionamento da luta antimanicomial e fim das farmácias populares. E ainda: proibição de novos cursos de medicina, limitação constitucional de recursos para o setor independentemente do aumento da demanda, ataque ao programa Mais Médicos, entre outros crimes de lesa-direitos. O propósito mais que evidente é o de inviabilizar o direito universal à saúde para beneficiar a atenção como um bem de mercado.

A investida que acaba de ser deflagrada vem exatamente do setor da medicina privada, por meio das administradoras dos planos de saúde. Seguras do projeto determinado de inviabilizar o SUS, já colocam as manguinhas de fora e anunciam novos contratos com uso de franquias, ou seja bandeiradas para poder começar a usar o plano pelo qual pagam todos os meses, mesmo que não adoeçam. A franquia, somada à coparticipação, se torna uma sobretaxa que dobra o custo do plano. Derrotado, ao retornar para o SUS, verá que SUS já não há mais. O país fica dividido entre os que podem pagar pela saúde e os pobres, que passarão a receber uma saúde pobre.

É a vitória da estratégia do silêncio. Quanto mais se ameaçou o direito, menos se lutou para mantê-lo e ampliá-lo. Quem nunca atirou uma pedra ao SUS?

Na educação a situação segue o mesmo roteiro de filme de terror. Depois do extermínio dos programas como Ciência sem Fronteiras, das politicas de inclusão e cotas, e do Fies, entre outros, o saber foi expulso para o fim da fila em nome dos interesses do lucrativo mercado educacional. São vários os ataques. Aumentaram a carga de ensino à distância sem controle de qualidade. Foram abertas brechas para as propostas conservadorasnum incentivo indisfarçável ao fundamentalismo.

O mesmo raciocínio pode ser feito para todas as áreas, da segurança à habitação, da mobilidade à agricultura. Quem chegou até aqui não vai parar. Destituir uma presidenta eleita, prender em processo politizado a maior liderança popular do país, entregar as riquezas nacionais ao capital, lançar mão do terrorismo judicial e policial são etapas de um projeto sem hora para acabar.

A única ação responsável é barrar o avanço do fascismo e impedir a naturalização do Estado de exceção. Contra o silêncio, só o grito.

Por João Paulo Cunha

 

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