A dor que fica



A dor que fica

No dia 9 de outubro de 2012 o eletricitário terceirizado da Cemig, José Custódio Gomes Silva (conhecido como Índio), 38 anos, morreu trabalhando na rede da empresa, no quarto acidente fatal registrado naquele ano. Ele trabalhava na empreiteira Engepol há 14 anos e deixou viúva Cristina Aparecida Pedro Gomes, 34 anos, e órfão, Erik Ivan Pedro Gomes, 13. Cristina Aparecida concedeu entrevista ao Sindieletro, e contou como é viver sem o marido. Confira:

Chave Geral - Como ficou a vida familiar após o acidente do Índio?

Cristina – Péssima e desestruturada. Depois que ele morreu, sobraram as contas pra pagar e outros problemas para resolver sozinha. O Erik chora muito e não me deixa vê-lo chorando. Ele sente muito a falta do pai. Espero que ele não tenha problemas na escola. O Erik fez até uma promessa, que o pai continue olhando por ele.

CG - A empresa deu algum tipo de ajuda?

Cristina - Deu 185 reais para pagar as camisas que fizemos em homenagem ao Índio, mais 30 reais para a gasolina. O Baltazar (supervisor da Engepol) veio aqui em casa, deu a notícia do acidente e procurou os pais do Índio para levar o corpo pra lá. Eles levaram o corpo e nem tive o direito de velar o meu marido perto da minha casa. A empresa não entregou nada pra mim. Os pertences dele foram entregues ao irmão. A empresa não considerou que eu era a esposa. Até a roupa que Índio usou no enterro foi a Engepol que escolheu. Eu levei uma roupa, mas eles disseram que não precisava trocar, pois já tinham arranjado um terno, que ele teria um enterro digno... Tão digno que a urna estava quebrada.

CG – A Engepol tem lhe procurado?

Cristina - Desde que Índio morreu, ninguém me procurou. Menos de uma semana da morte dele, fui ao banco e até a conta eles já tinham encerrado. Nem os dias trabalhados antes da morte eles depositaram. Fui receber alguma coisa só em dezembro e, se não fosse minha mãe, eu teria passado fome com meu filho.

CG – Qual o seu desejo e quais as suas expectativas de futuro?

Cristina - Eu desejo que tudo acabe bem e que o Índio seja lembrado por aquilo que ele foi. Ele dedicou grande parte da sua vida à Engepol e tinha muito orgulho de trabalhar na empresa. Eu espero que a “firma” tenha mais consciência, para que nenhuma pessoa passe mais pelo que eu estou passando.

Nada supre a perda de uma vida

O diretor do Sindieletro, Jobert Fernando de Paula, lamentou profundamente a perda da vida do Índio e de todas as demais vidas de trabalhadores que foram perdidas durante o trabalho. Segundo ele, ainda que houvesse uma maior preocupação da Engepol com a família do acidentado, temos sempre que ter a clareza de que nenhum dinheiro, nenhuma palavra, nenhum conforto material poderão suprir a falta de um ente querido.“A ausência de um pai, um filho, um marido, provoca a busca de um novo sentido para a vida que não é, de maneira alguma, algo fácil de encontrar”, avaliou.

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